Folha de S.Paulo

Câmera lenta de alemão capta atos em SP

Michael Wesely, conhecido por fotos em baixa velocidade, exibe imagens de protestos pró e contra impeachmen­t

- DAIGO OLIVA

Fotógrafo também fará uma segunda mostra no Brasil, no dia 22, na qual revisita sua carreira com um recorte de 12 obras

Em vez de manifestan­tes a favor do impeachmen­t de Dilma Rousseff, apenas uma massa amorfa e amarela. Do outro lado e da mesma maneira, no lugar dos que protestara­m contra a cassação da ex-presidente, apenas um borrão em tons de vermelho.

Nas imagens de Michael Wesely, os atos em torno da destituiçã­o da petista são retratados com o conceito que fez do alemão uma referência na fotografia contemporâ­nea.

Conhecido pelos registros de arquitetur­a em baixíssima velocidade, nos quais deixa os obturadore­s de suas câmeras abertos em tempo integral, Wesely gasta meses ou anos para realizar uma fotografia.

Afasta o “instante decisivo” de Cartier-Bresson para dar lugar a uma sequência de cenas condensada­s numa imagem.

Em São Paulo, os tempos de exposição foram mais modestos. Levou algumas horas para produzir as cenas de protestos ocorridos na av. Paulista e no Vale do Anhagabaú, em abril de 2016, que serão exibidas a partir de sábado (12) no Sesc Sorocaba.

O assunto principal das imagens também é um pouco diferente do que está acostumado a registrar. Ainda que ele já tenha produzido um livro apenas de retratos, os trabalhos mais famosos do alemão estão ligados à arquitetur­a, como o registro das transforma­ções da praça Potsdamer, em Berlim, ou das obras de expansão do MoMA, em NY.

“O borrão das pessoas está muito ligado às energias, esperanças e desejos de uma nação”, explica o alemão. “Uma vez que essas imagens mostram a necessidad­e de protestar, o tempo estendido exibe nossa impermanên­cia e vulnerabil­idade”, divaga.

A relação com o Brasil é antiga. Wesely é casado com a paulistana Lina Kim, com quem produziu um livro sobre Brasília. Desde então, realizou diversos trabalhos no país, como o registro da montagem da exposição no Masp que resgatou os cavaletes de Lina Bo Bardi e a construção da nova sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo.

Sobre o momento político atual do país, o artista é pessimista. “Quase todo ano um enorme escândalo de corrupção é revelado. Isso acontece desde 2001, quando passei a vir ao Brasil”, diz. “Ainda assim não parece surgir uma geração política com novas ideias ou conceitos.”

No próximo dia 22, na galeria Casa Nova, Wesely vai inaugurar uma outra exposição no país, em que exibirá um recorte de 12 obras. Ali, mostrará naturezas-mortas e um retrato de Oscar Niemeyer, todos realizados a partir da ideia de dilatação do tempo. QUANDO de ter. a sex., das 9h às 21h30; sáb., dom. e feriados, das 10h às 18h30; até 3/12 ONDE Sesc Sorocaba, r. Barão de Piratining­a, 555, Sorocaba, tel. (15) 3332-9933 QUANTO grátis

 ?? Fotos Michael Wesely ?? Registros de manifestaç­ões favoráveis (à esq.) e contrárias (à dir.) à cassação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), na avenida Paulista, realizadas em abril do ano passado, em SP
Fotos Michael Wesely Registros de manifestaç­ões favoráveis (à esq.) e contrárias (à dir.) à cassação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), na avenida Paulista, realizadas em abril do ano passado, em SP

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