Folha de S.Paulo

Dodge tem de explicar reunião com Temer, diz procurador

Integrante da força-tarefa da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima afirma que encontros fora da agenda não são ideais

- JOSÉ MARQUES

Integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse nesta segunda (14) que “encontros fora da agenda não são ideais para a situação de nenhum funcionári­o público”

Ele se referia à reunião do presidente Michel Temer com a sucessora de Rodrigo Janot na PGR (Procurador­ia-Geral da República), Raquel Dodge, que não constava na agen- da presidenci­al.

Questionad­o a respeito do assunto em evento sobre compliance (atividades internas das empresas para evitar e detectar desvios) nesta segunda-feira (14), em São Paulo, o procurador citou a força-tarefa de Curitiba como exemplo e disse que recusou um encontro com Temer quando o peemedebis­ta ainda era vice da ex-presidente Dilma Rousseff.

“Nós mesmos [procurador­es do Ministério Público Federal em Curitiba], às véspe- ras do dia da votação do impeachmen­t, fomos convidados a comparecer ao Palácio do Jaburu à noite e nos recusamos, porque entendíamo­s que não tínhamos nada a falar com o eventual futuro presidente do Brasil naquele momento”, disse Lima.

Segundo ele, o Ministério Público foi contatado, à época, pelo ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures, que em junho deste ano foi preso ao ser filmado correndo com uma mala de dinheiro, após delação premiada da JBS. A gravação foi usada por Janot como prova na denúncia apresentad­a contra Temer por corrupção passiva.

Dodge se reuniu com Temer no último dia 7 e, neste domingo (13), afirmou que formalizou o pedido da reunião por e-mail, na véspera da sua realização.

O encontro não estava registrado na agenda do presidente, mas, segundo a secretaria de comunicaçã­o da Procurador­ia, constava na de Dodge. Como ela ainda não assumiu o cargo de procura- dora-geral, o que só ocorrerá em 18 de setembro, não tem a agenda pública.

Para Carlos Fernando dos Santos Lima, “é claro” que a sucessora de Janot tem que se explicar. “Ela deu uma explicação e tem que ser cobrada pelas consequênc­ias desse ato”, disse.

Questionad­o se o encontro comprometi­a Dodge ou se as explicaçõe­s eram satisfatór­ias, ele disse que a questão cabia ao corregedor do Ministério Público Federal.

“Eu posso dizer por nós. Nós tivemos uma situação semelhante e nos recusamos a comparecer. Nós temos agora que avaliar uma consequênc­ia dentro da política que o Ministério Público vai ter a partir da gestão dela.”

“Todo funcionári­o público é responsáve­l pelos atos que tem. Infelizmen­te não há como fugir da responsabi­lização perante a sociedade.”

O procurador fez uma palestra sobre investigaç­ões anticorrup­ção, em fórum organizado pela Amcham (Câmara Americana de Comércio).

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