CEOs renunciam a conselhos em protesto
EM MAUMEE (EUA)
FOLHA,
Os arredores da pequena Maumee, no norte de Ohio, são parte do cenário típico da região rural americana: terrenos com extensas plantações, casas isoladas e eventuais placas de apoio ao presidente Donald Trump.
Com 13,8 mil habitantes, Maumee tem sido apontada por jornais locais como a residência de James Fields Jr., que acelerou um carro na direção de uma multidão que protestava contra supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia.
A cidade, no entanto, nega que Fields seja parte de sua comunidade —apesar de vizinhos terem confirmado que o viram na região.
“O indivíduo acusado de assassinato em Charlottesville não é, e pelo nosso conhecimento nunca foi, residente da cidade de Maumee”, diz o texto assinado pelo prefeito, Richard H. Carr, e publicado no site oficial da cidade.
A administração do condomínio do qual Fields seria morador tampouco confirmou a informação.
Questionada sobre se Fields morava ali, a administra- dora do complexo de apartamentos disse um rápido “sim”, mas logo cortou a conversa, alegando que não poderia dar informações sobre os moradores.
“É uma vergonha isso acontecer”, disse Steve Russell, faxineiro do estacionamento da mercearia que fica a poucas quadras do condomínio. “Esses supremacistas estão se sentindo empoderados agora com Trump, mas não conheço nenhum partidário dele por aqui”, disse.
A mesma resistência em se relacionar com a figura de Fields foi sentida na cafeteria da rede Starbucks onde ele trabalhava. Depois de obter uma constrangida confirmação de uma funcionária de que ele era seu colega, a reportagem foi “convidada a se retirar” após tentar falar com o gerente e com clientes sobre o caso.
Ohio é um dos chamados “swing states”, decisivos na eleição presidencial por não terem maioria democrata ou republicana definida. Após ter eleito Obama duas vezes, elegeu Trump por 52,1% no ano passado. No entanto, o condado de Lucas, onde Maumee está localizada, foi um dos únicos a votar majoritariamente em Hillary (56%).
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
A reação branda de Trump aos protestos em Charlottesville no fim de semana levou à saída de três CEOs (executivos-chefes) de seu Conselho Americano da Magistratura contrários às declarações.
O primeiro foi Kenneth Frazier, da companhia farmacêutica Merck&Co, que é negro. Em comunicado, ele disse se sentir responsável por “assumir uma posição contra a intolerância e o extremismo”.
“Os líderes da América devem honrar nossas visões fundamentais rejeitando claramente expressões de ódio, intolerância e supremacia grupal, que vão de encontro ao ideal americano de que todos são criados iguais.”
Horas depois, foi a vez do executivo-chefe da esportiva UnderArmour, Kevin Plank. “Continuaremos a priorizar os esforços em inspirar a todos de que podem fazer qualquer coisa a partir do poder do exporte, que promove união, diversidade e inclusão.”
Já o CEO da Intel, Brian Krzanich deixou o cargo fazendo uma crítica ao presidente. “Enquanto apelei a líderes para que condenassem os supremacistas brancos, muitos em Washington estavam mais preocupados em atacar qualquer um que discorde deles.”
Trump não comentou as saídas de Krzanich e Plank, mas ironizou Frazier em uma rede social. “Ele terá mais tempo para abaixar os preços extorsivos dos remédios!”
Vários executivos de grandes empresas dos EUA, porém, já saíram de conselhos consultivos em protesto contra políticas do presidente.
Os executivos-chefes da Tesla, Elon Musk, e da Walt Disney, Robert Iger, renunciaram após o anúncio da saída do acordo de Paris. Travis Kalanick, ex-CEO da Uber, abandonou o conselho empresarial após ser pressionado por empregados devido às medidas anti-imigração.