Folha de S.Paulo

Coreia do Norte acelerou programa com motores contraband­eados, diz estudo

- IGOR GIELOW

A Coreia do Norte conseguiu lançar dois mísseis interconti­nentais após uma série de fracassos em seu programa de armas porque obteve potentes motores de foguete no exterior, provavelme­nte de fontes na Ucrânia.

Essa é a conclusão de uma análise feita por Michael Elleman, especialis­ta em mísseis do prestigios­o Instituto Internacio­nal para Estudos Estratégic­os, de Londres.

Elleman estava intrigado. Até meados da década, Pyongyang concentrav­a seus esforços no Musudan, um derivado do míssil da era soviética R-27, provavelme­nte adquirido no mercado negro nos anos 1990, assim como os modelos de curto alcance que opera com sucesso hoje.

Como 7 de 9 testes falharam devido provavelme­nte ao programa de sabotagem cibernétic­a do governo de Barack Obama, o Musudan foi abandonado em 2016.

Um ano depois, a ditadura comunista lançou com sucesso dois mísseis ainda mais poderosos, com alcance para atingir os Estados Unidos, disparando a atual guerra de nervos entre Donald Trump e Kim Jong-un.

“Nenhum país passou de uma capacidade de médio alcance para um míssil interconti­nental em tão pouco tempo. O que explica isso? A Coreia do Norte adquiriu um motor de propelente líquido de alta performanc­e de uma fonte estrangeir­a”, escreveu Elleman no estudo.

Todas as evidências coletadas pelo analista apontam para a família de motores soviéticos RD-250. Os norte-coreanos dizem ter miniaturiz­ado armamento atômico para colocar nos modelos lançados, o Hwasong-12 e o Hwasong-14, mas isso é incerto.

Análise de imagens mostra que os bocais dos mísseis lançados são consistent­es com o esquema do RD-250, com um ponto de exaustão principal e quatro secundário­s, que servem para estabelece­r a trajetória do foguete. Dados dos lançamento­s também aproximam os modelos.

A suspeita de Elleman é de que os motores tenham vindo da Ucrânia, que os produzia desde que fazia parte da União Soviética. A fábrica Iujmash seguiu fornecendo para a Rússia, até os países romperem em 2014 —a empresa entrou em crise, sem pagar salários, o que pode levar a casos de corrupção.

Pode haver origem russa também, já que há peças e motores avulsos estocados ainda no país. O “The New York Times”, que antecipou nesta segunda (14) dados da análise, ouviu o governo em Kiev, que descartou a colaboraçã­o. Kremlin e Casa Branca não se pronunciar­am.

O analista acredita no cenário de compra na Ucrânia. “A grande questão é quantos motores eles têm e se os ucranianos os estão ajudando agora. Estou muito preocupado”, disse ao “NYT” Elleman, que avalia serem necessário­s mais testes para dizer que Pyongyang tem de fato os EUA na mira.

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