Primárias argentinas dão vitória a Macri e sobrevida a Cristina
Aliados do presidente foram mais bem votados, mas antecessora mostrou força para voltar
Ex-presidente, que vai disputar vaga no Senado em eleições de outubro, teve empate técnico com governista DE BUENOS AIRES
Ao contrário das semanas que precederam a eleição primária argentina, no domingo (13), Buenos Aires amanheceu confusa nesta segunda-feira (14) com as notícias da madrugada.
A apatia dos dias anteriores, justificada pelo fato de se tratar de uma prévia em que os partidos deveriam eleger seus representantes mas na qual as principais siglas tinham apenas um candidato, sumiu. A votação virou assunto nas ruas, nos bares e nos programas de TV.
O estopim foi a decisão do governo Mauricio Macri de festejar antes de seu triunfo estar consolidado.
No bunker de sua aliança Cambiemos (Mudemos), o presidente e seus simpatizantes celebravam uma vitória que se confirmou em várias partes do país e, se repetida na eleição em outubro, os tornará a principal força política argentina, com maioria na Câmara dos Deputados e bancada maior no Senado.
O governo também venceu em mais províncias —entre elas as mais importantes, como Santa Fe, Córdoba, Mendoza, Corrientes, Entre Ríos, Jujuy, La Pampa, Neuquén, San Luis, Santa Cruz e na cidade de Buenos Aires (que tem status de província).
Enquanto isso, o peronismo encolheu em provínciaschave, embora tenha saído ganhador em regiões mais pobres, como Catamarca, Chaco, Chubut, Formosa, La Rioja, Misiones, Río Negro, Salta, San Juan, Santiago del Estero e Tierra del Fuego.
Mas na província de Buenos Aires, prêmio cobiçado da noite, o resultado viria como um banho de água fria. SUSPENSE No começo da apuração, o governista Esteban Bullrich, aparecia com seis pontos de dianteira sobre a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-15).
MAURICIO MACRI
presidente argentino SIMPATIZANTES DA EX-PRESIDENTE CRISTINA KIRCHNER Governistas (Macri) Kichnerismo e aliados Justicialismo (peronismo clássico) Outros - cinza
No bunker do Cambiemos, a distância foi festejada como definitiva, com discurso da vitória de Bullrich e de Macri, que considerou o êxito um sinal de que a “mudança pela qual os argentinos votaram em 2015 está consolidada”.
Balões foram soltos no ar, os candidatos e o presidente dançaram no palco, houve chuva de papel picado e gritos da militância de “não vão voltar, não vão voltar”, referindo-se aos kirchneristas.
À meia-noite, depois que as luzes do bunker do Cambiemos foram apagadas e o de Cristina, no estádio Arsenal (em Sarandí, grande Buenos Aires), começava a esvaziar, porém, a distância entre os candidatos minguou.
A chegada dos resultados dos municípios mais populosos da província, como La Matanza e Avellaneda, transformou a apuração em disputa acirrada. No estádio, a música e os jingles de campanha kirchneristas voltaram a tocar. A militância reapareceu, ao canto de “vamos voltar”.
Às 3h30, com um empate técnico declarado, Cristina apareceu para discursar. Acusou o governo de haver manipulado o “timing” da divulgação dos resultados, deixando as mesas de locais de tradição peronista para o fim. Kirchneristas pediram a recontagem dos votos.
Com 95,68% dos votos apurados, já pela manhã, Bullrich tinha 34,19%, contra 34,11% da ex-presidente.
O Ministério do Interior então afirmou que suspenderia a apuração para fazer recontagem, pois o empate criou dúvidas sobre como estavam sendo somados os votos das 1.537 mesas que faltavam.
Apesar da vitória fundamental em outras províncias, que fez o dólar cair e a Bolsa subir, Macri comemorou cedo. Na Argentina, vencer na província de Buenos Aires é considerado importante moral e numericamente. Tratase do principal colégio eleitoral do país, governado por uma importante aliada macrista, Maria Eugenia Vidal.
Agora, a atenção recai sobre o destino, em outubro, dos 15% de votos do peronistas anti-Cristina Sergio Massa e dos 6% de Florencio Randazzo, mais alinhado a ela.
A mudança pela qual os argentinos votaram em 2015 está consolidada” “Vamos voltar!”