Folha de S.Paulo

Novo rebaixamen­to é provável, dizem economista­s

- DANIELLE BRANT MARIANA CARNEIRO

O esperado aumento dos deficit orçamentár­ios neste ano e em 2018 deve ter como efeito colateral um novo corte da nota de crédito do Brasil, afirmam economista­s.

O Brasil é considerad­o grau especulati­vo pelas três maiores agências de rating: S&P, Moody’s e Fitch. A perspectiv­a é negativa, ou seja, há riscos de novos rebaixamen­tos.

A primeira sinalizaçã­o deve ser dada pela S&P, que em maio colocou a nota do país em “credit watch”. Isso significa que há pelo menos 50% de chance de haver um rebaixamen­to do rating, dentro do prazo de 90 dias —que termina na próxima semana.

Um novo corte na S&P levaria o rating a três níveis abaixo do grau de investimen­to (classifica­ção que indica que é seguro investir no país, perdida em 2015).

Muitos fundos estrangeir­os só investem em papéis de um determinad­o país caso ele tenha o grau de investimen­to. Em 2008, quando o país recebeu o selo de bom pagador, a Bolsa de São Paulo atingiu seu recorde histórico.

Representa­ntes da S&P estiveram no Brasil nas últimas semanas para acompanhar a situação fiscal. Para Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS no Brasil e ex-diretor do BC, a agência deve tomar uma decisão negativa.

“Só deve estar esperando o anúncio [da revisão]. Não o número em si, mas a explicação de por que o governo não atingirá a meta e o que será feito para atingir a nova”, diz.

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e exsecretár­io do Tesouro, afirma que a probabilid­ade de novo rebaixamen­to é elevada.

“A decisão sobre a meta será muito importante nessa avaliação. Não apenas o número, mas o que está por trás dele, ou seja, se a revisão ocorre por uma frustração de receitas ou se é para acomodar mais despesas”, afirma.

Ao assumir, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) anunciou que o deficit previsto para 2016 estava subestimad­o e elevou a projeção para R$ 170 bilhões. Fechou o ano com R$ 159 bilhões. A mensagem era que o rombo seria reduzido gradativam­ente até 2020.

Agora, deve elevar a meta deste ano dos atuais R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões. E, a de 2018, de R$ 129 bilhões para R$ 159 bilhões.

Kawall diz que o cenário será ainda mais negativo se “lido” como uma derrota da área econômica ante a pressão política de empurrar o deficit para mais de R$ 159 bilhões. REFORMAS O equilíbrio fiscal passa por corte de despesas de modo permanente, via reforma da Previdênci­a, por exemplo.

Para Rodrigo Borges, diretor da gestora Franklin Templeton, as agências deverão aguardar sinais mais firmes sobre a capacidade de o governo aprovar mudanças estruturai­s.

“As agências vão esperar para ter um ambiente claro. Não vão tomar nenhuma atitude no meio da confusão.”

Ainda assim, diz, há um prazo claro para a tolerância das agências. “Se o governo não aprovar a reforma neste ano, no ano que vem fica mais difícil. O deadline não chegou, mas vai chegar.”

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Regis Filho - 13.out.2011/Valor/Folhapress O economista-chefe do UBS, Tony Volpon, ex-diretor do BC

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