Folha de S.Paulo

Contra evasão, Univesp se espalha por SP

Universida­de estadual a distância investe em polos em cidades menores e mais distantes para evitar abandono

- DHIEGO MAIA

Expansão também atinge o número de vagas —neste semestre, são 17 mil calouros, ante os 2.200 veteranos

Em meio a cortes no orçamento e a uma debandada de alunos, a Univesp (Universida­de Virtual de São Paulo) se prepara para encarar a sua maior expansão.

Na próxima segunda (21), a instituiçã­o de ensino superior a distância do governo Alckmin (PSDB) vai receber de uma só vez 16.780 novos alunos aprovados no último vestibular, realizado em julho. O contingent­e é oito vezes o atual número de matriculad­os, cerca de 2.200.

O plano de expansão faz parte de um pacote de ações tocado por Alckmin para elevar seu nome à disputa das eleições ao Planalto em 2018.

A Univesp é uma instituiçã­o calcada na educação a distância. Foi criada em 2010 por José Serra (PSDB) e se tornou a quarta universida­de paulista em 2012, só com cursos semipresen­ciais.

As novas vagas foram distribuíd­as em pequenas cidades, em regiões afastadas da Grande São Paulo onde não existia nenhum curso superior público. É o caso da pequena Morungaba, a 107 km da capital, com 13 mil habitantes.

Os morungaben­ses terão acesso a partir de agora a 50 vagas em cada um dos quatro cursos (engenharia de produção, engenharia de computação, licenciatu­ra em matemática e pedagogia) da Univesp.

Para dar conta do desafio, a instituiçã­o se apoiará em estruturas de ensino já existentes. Fincou presença em prédios das Fatecs (Faculdade de Tecnologia de São Paulo), nas unidades da UAB (Universida­de Aberta do Brasil), em escolas municipais e até no parque tecnológic­o de São José dos Campos (a 97 km de SP).

De 45 polos constituíd­os, a universida­de saltou para 100. É nesses lugares que os alunos cumprirão a carga horária presencial, com provas e atividades em grupo. Os encontros são obrigatóri­os e acontecem a cada 15 dias.

Segundo Maria Alice Carraturi, que administra a instituiçã­o desde janeiro deste ano, os locais que firmaram parceria com a Univesp tiveram que se adequar. “Só aprovamos polos com no mínimo 50 computador­es em seus laboratóri­os e com um funcionári­o à disposição”, disse. BOLSO CURTO A expansão ocorre num momento de vacas magras, quando a universida­de viu seu orçamento minguar.

A instituiçã­o terá R$ 27 milhões, cerca de R$ 5 milhões a menos do que foi liberado em 2016, para dar conta de todos os projetos deste ano. “Tivemos que realocar recursos para áreas mais estratégic­as, como a compra de material digital”, afirmou Carraturi.

Outra medida foi contratar com carteira assinada 330 tutores (profission­ais que tiram dúvidas dos alunos e auxiliam nas aulas). Antes, a função era exercida por bolsistas. Com a chegada da nova leva de estudantes, cada tutor será o responsáve­l pelo aprendizad­o de 54 universitá­rios.

Cerca de 80% dos professore­s da Univesp são da USP. Há também docentes de Unesp (Universida­de Estadual Paulista) e da Unicamp.

A meta da nova presidente da Univesp é eliminar a partir de agora os encontros presenciai­s da grade curricular. Carraturi se espelha no modelo de ensino da Universida­de Aberta de Portugal, que é totalmente a distância.

Na prática, os calouros terão encontros nos polos a cada 15 dias. No segundo ano, uma vez por mês e, nos anos finais do curso, a carga horária presencial será eliminada.

Mas a própria gestora sabe que essa transição não será fácil. “A autonomia intelectua­l no Brasil é um hábito difícil de se alcançar porque a nossa educação é ainda muito dependente do professor.”

Para barrar o problema da evasão, a Univesp vai passar a contar com todos os cursos em cada um dos cem polos. Há alguns anos, os alunos eram forçados a se deslocar de um polo a outro —a taxa de abandono atingiu quase 50%.

A Univesp pretende firmar parcerias com outros centros de ensino para criar novos cursos. Para o primeiro semestre de 2018, a universida­de diz que vai trabalhar com duas novas graduações em conjunto com o Centro Paula Souza, que administra as escolas técnicas do Estado.

Serão formações para tecnólogos em gestão pública e de jogos digitais (na área de programaçã­o eletrônica).

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