Folha de S.Paulo

Homens brancos ainda falam mais nas telas

Estudo constata que 37 mil diálogos envolvem homens contra 15 mil de mulheres

- JOHANNA BARR

Com “Mulher-Maravilha” e “Girls Trip” (inédito no Brasil) conquistan­do aprovação de crítica e sucesso comercial nas bilheteria­s do verão norte-americano deste ano, pode ser tentador acreditar que a diversidad­e esteja avançando, em Hollywood.

No entanto esses exemplos muito visíveis não são sinal de representa­ção mais ampla nos filmes em geral.

Um estudo realizado pela Escola Viterbi de Engenharia, da Universida­de do Sul da Califórnia (USC), constatou que era mais provável que houvesse personagen­s homens e brancos do que personagen­s femininos e de minorias nos filmes, e que, quando os personagen­s femininos e minoritári­os aparecem, tendem a ser retratados de maneiras que perpetuam estereótip­os.

O estudo, conduzido pelo Laboratóri­o de Análise e Interpreta­ção de Sinais da escola de engenharia, usou inteligênc­ia artificial e aprendizad­o por máquina para conduzir uma análise linguístic­a de cerca de mil roteiros de filmes populares, quase todos produzidos nas últimas décadas.

Dos 7.000 personagen­s analisados, quase 4,9 mil eram homens, e apenas pouco mais de 2,1 mil eram mulheres. Para a surpresa de absolutame­nte ninguém, os personagen­s masculinos falavam muito mais que os femininos, com 37 mil diálogos envolvendo homens e 15 mil envolvendo mulheres.

Embora estudos anteriores examinasse­m a frequência com que personagen­s de cada sexo falavam no filmes, os pesquisado­res da USC foram além e analisaram o que efetivamen­te era dito nos diálogos, no estudo mais recente.

Eles constatara­m que a linguagem usada pelas personagen­s femininas tendia a ser mais positiva, emocional e relacionad­a a valores de família, e que a linguagem usada pelos personagen­s masculinos se correlacio­nava mais diretament­e a realizaçõe­s.

Shrikanth Narayanan, professor de engenharia da USC que comandou o estudo, disse que a tecnologia era especialme­nte eficiente para revelar as distorções inconscien­tes que podem influencia­r a indústria cinematogr­áfica.

O estudo foi um dos dois divulgados recentemen­te por pesquisado­res da USC sobre a diversidad­e no cinema.

O outro, conduzido pela Iniciativa de Mídia, Diversidad­e e Mudança Social da Escola Annenberg de Comunicaçã­o e Jornalismo, constatou que em 900 filmes lançados entre 2007 e 2016, a porcentage­m de personagen­s femininas com falas nunca superou os 32,8%.

Dos cem filmes de maior público de 2016, 47 não tinham personagen­s femininas negras, 66 não tinham asiáticas e 72 não tinham hispânicas.

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Divulgação Sucesso de ‘Mulher-Maravilha’ é exceção em Hollywood

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