Procurador atuou em acordo da JBS, afirmam delatores
Áudio entregue por Joesley Batista implica Marcello Miller e pressiona Janot
‘Nós dois temos que operar o Marcello direitinho para chegar no Janot e pá, tá, tá’, afirma sócio da JBS
O diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, disse em conversa com seu chefe, o empresário Joesley Batista, que Marcello Miller, na época procurador da República, estava ajudando a empresa a acertar detalhes do acordo de delação premiada que seria fechado com a ProcuradoriaGeral da República.
A declaração de Saud aparece no áudio que foi entregue pela própria JBS à PGR na semana passada.
Na gravação, feita em 17 de março, Saud explica que Miller, na época procurador lotado no Rio, estava ajudando ele e Joesley a acertarem detalhes do acordo de delação.
O teor da gravação foi usado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para pedir apuração de omissão de informações por parte dos delatores e ameaçar revisar o acordo dos executivos da empresa por causa da suposta participação de Miller.
Miller era do grupo próximo de Janot. Atuou até 2016 na força-tarefa da Lava Jato montada pela PGR e em março desse ano se transferiu para um escritório de advocacia que negociou a leniência da empresa.
A menção a Miller pelos delatores e a possibilidade de que seu papel na negociação da delação da JBS acabe por cancelar o acordo devem ter como efeito imediato o enfraquecimento de Janot.
O procurador-geral se vê questionado no momento em que prepara a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, por obstrução de justiça e formação de quadrilha. Também tenta fechar os derradeiros acordos de delação e fazer as últimas denúncias antes de deixar o cargo, em 17 de setembro.
Trechos do áudio foram divulgados pela revista “Veja” e pelo jornal “O Globo”. Nesta terça (5), o ministro Edson Fachin, relator do caso no STF, retirou o sigilo da gravação.
Miller teve a portaria de exoneração assinada em 5 de março, com efeitos legais a áudios fizeram parte da delação foram encontrados nos gravadores de Joesley pela PF novos arquivos foram entregues pelaJBS-STF ainda não decidiu sobre sigilo, mas áudios vazaram na imprensa Vazaram na imprensa Sob sigilo Sob sigilo, mas vazaram partir de 5 de abril. Legalmente, ainda era procurador na época da suposta conversa que manteve com Saud.
Joesley fala sobre a importância de Miller nos planos da JBS de fechar delação com a PGR. O empresário via Miller como forma de acesso a Janot.
“Por isso que nós dois temos [Joesley e Saud] que estar cem por cento alinhados. Nós dois e o Marcello. Nós dois temos que operar o Marcello direitinho para chegar no Janot e pá, tá, tá. Eu acho, é o que eu falei para a [advogada] Fernanda [Tórtima]. Nós nunca podemos ser os primeiros, temos que ser os últimos. [...] Quem vai bater o prego da tampa [do caixão].”
Em outro ponto, Saud demonstra preocupação com o fato de a Procuradoria da República no DF ter desencadeado fase de operação para investigar os negócios da JBS, embora ele e Joesley já estivessem em contato com Miller com vistas a uma delação.
Joesley disse que, para ele, era “natural” o MPF manter a pressão. “O Janot sabe tudo, a turma já falou pro Janot”, disse a Saud, que quis saber se o chefe entendia que a fonte de Janot seria Miller.
Joesley negou. “Não é o Marcello, nós falamos pro Anselmo [procurador do caso Greenfield], que falou pro Pellela [chefe de gabinete de Janot], que falou para não sei quem lá, que falou para o Janot, o Janot está sabendo. Aí o Janot, espertão, o que o Janot falou? ‘Bota pra foder, bota pra foder, põe pressão neles para entregar tudo’. Mas não mexe com eles’.
Em outro trecho, Joesley demonstra confiança de que o acordo com a PGR será firmado, e que ele obterá imunidade: “Porque no final, a realidade é essa. Nós não vai ser preso. Nós sabemos que nós não vai. Vamo fazer tudo, menos ser preso”.