Folha de S.Paulo

Medida do Senado põe em risco arrecadaçã­o de R$ 2 bi

Resolução suspende cobrança de contribuiç­ão previdenci­ária de produtor rural

- MARIANA CARNEIRO BRUNO BOGHOSSIAN

Governo vai acionar Advocacia-Geral da União para tentar derrubar no STF texto aprovado por senadores

O Senado aprovou uma resolução que coloca em risco R$ 2 bilhões em receitas do governo neste ano. Proposta pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), a resolução suspende a cobrança do Funrural —contribuiç­ão à Previdênci­a de produtores rurais.

O governo esperava arrecadar R$ 2 bilhões neste ano com o pagamento de contribuiç­ões atrasadas, após o Supremo Tribunal Federal ter declarado, em março, a constituci­onalidade da cobrança.

Só com atrasados, de mais de dez anos, o governo esperava arrecadar cerca de R$ 17 bilhões. Mas a resolução de Kátia Abreu compromete a cobrança.

Inspirada numa decisão favorável obtida no Supremo em 2010 pelo frigorífic­o Mataboi, do irmão mais velho de Joesley e Wesley Batista, a senadora propôs retirar a alíquota de 2,1% que incide sobre a receita bruta das empresas agropecuár­ias.

A argumentaç­ão é que, antes da decisão atual, o Supremo havia declarado a inconstitu­cionalidad­e da cobrança, tendo como base a análise de uma legislação de 1992 e que foi alterada com a aprovação de um novo texto, em 2001.

Com a retirada da alíquota, a lei de 2001 fica esvaziada, inviabiliz­ando a cobrança do Funrural.

Como se trata de uma resolução, bastou a promulgaçã­o do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), após o texto ter sido aprovado em comissão na Casa.

O governo vai acionar a AGU (Advocacia-Geral da União) para tentar derrubar a resolução no Supremo, porém há dúvidas sobre a possibilid­ade de o tema ser decidido a tempo de garantir a arrecadaçã­o ainda neste ano.

Até lá, a cobrança depende apenas da força de uma medida provisória, proposta pelo governo em julho e cujo relator é o presidente da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT). MAIS FAVORÁVEL Leitão afirma que, se a resolução não prosperar, o setor trabalhará para aprovar condições mais favoráveis na tributação e no parcelamen­to de débitos atrasados.

Além de alíquota de 1,5%, o pagamento dos atrasados deve ter a entrada reduzida de 5% para 1%, segundo adiantou Leitão, com desconto integral de juros e multa.

O texto também deverá prever a possibilid­ade de escolha de a cobrança incidir sobre a folha de pagamentos ou sobre a receita bruta.

Autora da resolução no Senado, a senadora Kátia Abreu afirma que o setor não quer anistia e que a MP deverá ser usada para criar as regras para a contribuiç­ão previdenci­ária do setor.

“O governo e o Ministério da Fazenda sabem que essa dívida nunca existiu e, na hora da dificuldad­e, eu sei que precisamos de receita, mas não é justo para o setor.”

A perda de receita aumenta a dificuldad­e do governo em cumprir a meta de deficit prevista para este ano, elevada para R$ 159 bilhões.

Ela não constava da lista de riscos da equipe econômica, da qual já fazem parte o Refis e os leilões das usinas da Cemig, ambos em meio a negociaçõe­s políticas.

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Pedro Ladeira - 29.mar.2017/Folhapress Senadora Katia Abreu (PMDB-TO), autora de resolução que suspende cobrança do Funrural
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