Folha de S.Paulo

Outras caracterís­ticas

- ROGÉRIO PAGNAN

DE SÃO PAULO

O comando do Exército autorizou policiais civis e militares do país inteiro a comprarem pistola calibre 9 mm, usada pelas Forças Armadas e considerad­a uma das armas curtas mais letais do mundo.

A liberação para uso particular atende, segundo o Exército, à solicitaçã­o de entidades ligadas às polícias.

A decisão ocorre em meio a uma grave crise de segurança na qual agentes têm sido assassinad­os por criminosos em momentos de folga. No Rio, mais de cem PMs já foram mortos neste ano.

Essa autorizaçã­o é vista com preocupaçã­o por órgãos de fiscalizaç­ão como a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo —que teme a elevação da letalidade policial.

Já para o tenente-coronel da reserva da PM paulista Márcio Tadeu Anhaia Lemos, 51, a liberação da 9 mm para uso particular era um pleito antigo dos agentes especialme­nte para tentar fazer frente ao poderio bélico dos criminosos.

As polícias militares, a Rodoviária Federal e a PF já eram autorizada­s a comprar 9 mm para suas tropas, mas não para fins particular­es —o que mudou com a nova norma.

Para uso pessoal, policiais já podiam comprar pistolas como 380, .40 e até .45, mas nenhuma delas tida por especialis­tas como tão letal (transfixan­te) quanto a 9 mm. Os bombeiros militares também estão autorizado­s pela lista do Exército, mas os guardas municipais de todo o país seguem excluídos dessa permissão. FOLGA Uso institucio­nal As Forças Armadas, a Polícia Federal e algumas polícias estaduais (como o Bope do RJ e de MT) já usavam os modelos 9 mm; a compra para tropas é autorizada pelo Exército desde 2013 Comparação com a pistola .40, utilizada por parte das polícias brasileira­s, como a paulista tam e precisam entregar o armamento e, ainda, aos agentes da ativa sem autorizaçã­o para levar a arma para casa.

Agora, todos esses poderão comprar uma pistola 9 mm. Essa arma custa praticamen­te o mesmo que uma .40 —cerca de R$ 3.700— ou o equivalent­e ao salário de um terceiro sargento (R$ 3.814,56) no Estado de São Paulo.

A maioria dos assassinat­os de policiais ocorre fora de serviço, segundo estudo recente do Instituto Sou da Paz. O levantamen­to, baseado em boletins de ocorrência, revela que 70% dos policiais mortos na cidade de São Paulo entre 2013 e 2014 estavam de folga.

Outros policiais afetados diretament­e pela medida são aqueles que fazem atividades de segurança fora do serviço, os chamados “bicos”.

Com essa arma em mãos, o policial poderá, em tese, matar o oponente com um

LINCOLN TENDLER

especialis­ta em armas

a ele e a terceiros Isso é um estímulo para o aumento da letalidade policial. Porque um policial com uma arma dessas vai se sentir mais poderoso

JÚLIO CÉSAR FERNANDES NEVES

ouvidor das polícias de São Paulo

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