‘Divórcio’ olha com ironia esperta universo ‘breganejo’
FOLHA
Esqueça as favelas do Rio ou as praias do Nordeste. Com “Divórcio”, que estreia nesta quinta (21), está aberta a onda cinematográfica que explora o sertão rico do interior de São Paulo. O filme é uma “dramédia” (misto de drama com comédia, a última coqueluche da dramaturgia) sobre o casamento de Noeli e Julio.
O casal, interpretado por Camila Morgado e Murilo Benício, começa com um amor juvenil que a faz abandonar a fazenda rica da família para morar com um engenheiro roqueiro e pobre.
Os dois pastam juntos, enriquecem com o suor da mulher, que inventa um molho de tomate delicioso, e, passadas duas décadas, tornam-se burgueses interioranos. A selvageria da paixão vira discussão por causa de controle remoto. E deságua no divórcio.
Aí a trama engata, mostrando as ofensivas dessa guerra que é desfazer uma casa. Advogados, aviões, sapa- tos de R$ 7.000 e prisões por falta de pensão entram numa toada alucinante —às vezes até alucinante demais,
O roteiro olha com ironia esperta o universo “breganejo”, quase virgem no cinema nacional.
As piadas vão desde a paixão de um homem por sua camionete importada até a existência de um galante cantor sertanejo de nome Catanduva —corruptela de todos os Sorocabas da vida, que levam o nome de suas cidades.
Benício se sai muito bem no papel de pamonha, nicho em que vem se especializando também na TV. Já Morgado arrisca se despir da aura de elegância que envolveu a maioria de seus papéis para dar vida a uma madame desajeitada. E colhe resultados, ainda que a caracterização às vezes soe forçada.
Atenção para Luciana Paes, que brilha no papel da melhor amiga de Noeli. Desajeitada e constrangedora, é a rainha da ordenha de risadas.
“Divórcio” é um exemplo de que o país sabe, sim, fazer produtos tipo exportação. DIREÇÃO Pedro Amorim ELENCO Camila Morgado, Murilo Benício, Luciana Paes PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos AVALIAÇÃO muito bom