Folha de S.Paulo

Juros civilizado­s

Novas projeções do Banco Central sugerem taxa de um dígito até 2020; cenário vai depender, é claro, de políticas corretas, sorte e persistênc­ia

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Abriu-se a oportunida­de de um convívio duradouro com juros mais próximos de um patamar civilizado. Se bem aproveitad­a, a chance tem o potencial de transforma­r a economia brasileira.

No recém-divulgado Relatório de Inflação, documento em que divulga suas projeções, o Banco Central indicou que levará sua taxa, a Selic, ao menor nível da história: 7% ao ano. Abaixo da meta oficial, as expectativ­as para a alta do IPCA em 2018 e 2019 permitiram juros ainda mais baixos.

Mais importante, contudo, é o entendimen­to do BC de que a per- manência dessa taxa permitirá inflação sob controle até 2020 —desde que, claro, não haja deterioraç­ão dos cenários interno e externo, político e econômico.

Uma Selic baixa por tanto tempo seria fenômeno inédito, que ampliaria a disposição dos bancos de conceder crédito a famílias e empresas em condições menos extorsivas. Embora ainda cercado de muitas dúvidas, tal cenário se tornou mais plausível.

O país caiu na armadilha dos juros altos desde o advento do Plano Real. Embora a taxa real (a Selic depois de descontada a inflação) tenha caído gradual e acidentada­mente ao longo dos últimos 20 anos, nunca houve alinhament­o com o padrão de outras economias.

Uma razão sempre invocada é a memória inflacioná­ria; outra, o descontrol­e das contas públicas, que leva o governo a absorver grande parte da poupança nacional.

Há boa possibilid­ade de acomodação da alta de preços, ainda mais com a economia em ritmo lento. O teto fixado para os gastos públicos, em tese, conduzirá ao equilíbrio orçamentár­io —na prática, entretanto, o limite da despesa só será viável se uma reforma for capaz de disciplina­r a expansão dos encargos da Previdênci­a Social.

Oportunida­des de reduzir os juros de forma consistent­e já foram desperdiça­das nas últimas duas décadas. Espera-se, desta vez, que o trauma da recessão profunda sirva ao menos para estimular a persistênc­ia nas políticas corretas.

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