Folha de S.Paulo

Vídeos de terror

-

RIO DE JANEIRO - Um dos aspectos assombroso­s de uma semana de enfrentame­ntos na Rocinha é que não há um número preciso de mortos nos tiroteios. Até sexta a polícia associava quatro mortes aos conflitos, iniciados após a dissolução da aliança entre dois traficante­s que agora disputam o controle da venda de drogas.

Moradores da Rocinha relatam terem visto corpos sendo carbonizad­os ou jogados na floresta próxima.

Muitos vídeos de autenticid­ade não comprovada circulam por meio de redes sociais. Há cenas cruéis de supostos criminosos queimados vivos, além de corpos decapitado­s e mutilados.

Esses vídeos são enviados de morador a morador, sem que a origem possa ser apontada. Ampliam o terror de cada um que assiste a eles. A polícia alerta para o risco de vídeos reaproveit­ados de outros conflitos e lugares, apesar de admitir que alguns mostram locais reconhecív­eis na favela.

O vídeo mais chocante, que me foi mostrado por um morador da Rocinha, exibe um grupo de jovens tirando o coração que seria de um integrante de facção rival. Eles estão em um ambiente fechado, no qual só se destacam azulejos brancos.

Dois homens abrem o peito da vítima, arrancam seu coração e mostram para a câmera. Há ao menos uma mulher no recinto. Um dos jovens demonstra asco, com forte sotaque paulista: “Acabei de acordar, mano”. Outro comenta: “Olha, ainda está batendo”.

O sotaque amplia temores de que a novidade do ambiente criminoso no Rio seja a união de integrante­s de duas das facções do Estado (Terceiro Comando e Amigos dos Amigos) com a maior facção de São Paulo (Primeiro Comando da Capital).

Essa associação teria originado uma nova facção (Terceiro Comando dos Amigos), inimiga do Comando Vermelho. A polícia investiga a aliança desde maio, quando foi celebrada em um baile funk. ANDRÉ SINGER avsinger@usp.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil