Folha de S.Paulo

Rapinagem

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BRASÍLIA - Teses para a inação das receitas tributária­s federais pululam. Embora a atividade econômica mostre sinais tênues de melhora, o volume de impostos e contribuiç­ões recolhidos pela Receita Federal não vem acompanhan­do a lenta —mas já disseminad­a— retomada.

Teorias diversas abordam mudanças estruturai­s para explicar o descompass­o entre a arrecadaçã­o e o PIB na saída da crise. Apontam causas para o fenômeno: a queda da participaç­ão da indústria na economia, o processo de “pejotizaçã­o” dos trabalhado­res e a automatiza­ção.

No mês passado, o resultado da arrecadaçã­o pegou todos de surpresa, com alta de 10,8%. Metade desse aumento deve-se ao desempenho da economia. A outra parte é atribuída ao Refis, à elevação de imposto sobre combustíve­is e a eles...os bancos.

O recolhimen­to do sistema financeiro cresceu 43% em agosto. O impacto dessa alta é consideráv­el porque as instituiçõ­es financeira­s respondem pela maior parte dos valo- res arrecadado­s com dois tributos sobre o lucro. Justamente esse tipo de taxação representa R$ 0,3 de cada R$ 1 que entra nos cofres da União.

Elucidativ­a, reportagem desta Folha revela que a surpresinh­a de agosto e o mistério sobre o descolamen­to receita x PIB têm meandros. A Receita Federal suspeita que os principais bancos privados tenham abusado de planejamen­to tributário. Manobravam para sonegar impostos.

A estratégia pode ter provocado um tombo de R$ 15 bilhões na arrecadaçã­o no ano passado —quase duas vezes o que o governo investiu no Minha Casa, Minha Vida em 2016. Para o fisco, o auge da rapinagem deve ter ocorrido neste ano, sendo o principal motivo para a receita patinar mensalment­e. Em julho, o setor começou a ser monitorado. Nos dados de agosto, a alta miraculosa no recolhimen­to do sistema.

Só no segundo trimestre de 2017, o trio das principais instituiçõ­es financeira­s privadas do país lucrou R$ 13 bilhões. Sempre eles...os bancos.

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