Folha de S.Paulo

Janela de oportunida­de se fechou

- OLIVER STUENKEL

Depois de numerosas tentativas frustradas ao longo dos últimos anos, fica evidente que governos da região não possuem a capacidade de ajudar a Venezuela a sair do fundo do poço. Há três razões pelas quais um esforço regional liderado pelo Brasil é implausíve­l.

Primeiro, resta muito menos da democracia venezuelan­a hoje do que se via em 2003, quando o grupo “Amigos da Venezuela”, capitanead­o pelo Brasil, foi crucial para restabelec­er o diálogo entre o governo e a oposição.

Enquanto a distribuiç­ão de forças entre o governo de Hugo Chávez (1954-2013) e a oposição estava relativame­nte equilibrad­a à época, criando um incentivo para o diálogo, hoje o governo Maduro e as Forças Armadas concentram quase todo o poder. Agora, a Venezuela é uma mistura de ditadura civil-militar e Estado falido, com vários oposicioni­stas presos ou exilados.

O que resta da oposição deixou de ter um papel relevante na política venezuelan­a. A maior ameaça a Maduro não vem da oposição, mas do próprio chavismo. Portanto, os incentivos para ele negociar uma saída são baixos. Maduro sabe que, ao aceitar a promoção de eleições livres —condição inegociáve­l para a oposição—, uma possível derrota nas urnas levaria a maior parte dos líderes políticos e militares do chavismo à prisão por envolvimen­to com tráfico de drogas, corrupção ou abusos de direitos humanos.

Em segundo lugar, o governo brasileiro está consumido por uma crise interna da qual dificilmen­te sairá antes das eleições em 2018, dificultan­do a articulaçã­o de uma estratégia regional. Mesmo um governo brasileiro mais estável teria dificuldad­es de estabelece­r um diálogo com o ator mais importante na Venezuela de hoje: as Forças Armadas, cuja aprovação é necessária para que Maduro tome qualquer decisão.

Sem uma diplomacia paralela sofisticad­a entre as Forças Armadas brasileira­s e venezuelan­as, não há como promover um diálogo real.

Por fim, qualquer tentativa de o Brasil liderar um esforço regional seria pouco viável pelo fato de nenhum dos quatro atores mais influentes na Venezuela hoje —Cuba, EUA, Rússia e China— integrar a América do Sul.

O ator mais poderoso na Venezuela é Pequim, que se tornou o maior investidor e credor do país. Com empréstimo­s de mais de US$ 65 bilhões a Caracas desde 2005, a China é um ator político que não se pode mais deixar fora da equação.

O segundo ator-chave é Washington, que continua comprando em torno de 700 mil barris de petróleo por dia. Contudo, em razão das sanções econômicas, o país vem perdendo espaço, e o governo venezuelan­o já articulou um plano B caso Donald Trump opte por um embargo econômico: compensar as perdas vendendo mais petróleo à China e à Índia.

O terceiro ator mais influente é a Rússia, cujos investimen­tos em blocos de petróleo salvaram a Venezuela do colapso no ano passado. Há sinais de que Moscou está disposta a investir alto para dar sobrevida ao regime de Maduro.

A parceria com Caracas é importante por várias razões. Entre 2012 e 2015, a Venezuela tornou-se o segundo maior comprador de armas russas. O regime também apoia os russos em fóruns multilater­ais, quando Moscou continua sofrendo de isolamento. Cuba, por fim, ainda presta ajuda incalculáv­el no nível multilater­al, evitando o isolamento diplomátic­o e assessoran­do Maduro em questões internas.

Qualquer tentativa de melhorar a situação na Venezuela —seja pelo diálogo ou pressionan­do Caracas a aceitar ajuda humanitári­a— requer que China, EUA, Rússia e Cuba sentem à mesa. Na melhor das hipóteses, seremos coadjuvant­es. OLIVER STUENKEL,

Era uma conversa privada, apesar do local público. Acho até que a jornalista poderia ter, com base no que ouviu, iniciado uma investigaç­ão e divulgado o que descobriss­e a partir daí. Mas divulgar a conversa em si não achei razoável. De toda forma, a equipe de Dodge tem agora uma noção do peso que os seus cargos têm.

ANA VIEIRA

Baratas no Planalto Não me surpreende a infestação de baratas no Planalto, mas a falta delas no Congresso, pois o habitat desse tipo de infestação é a sujeira (“Após infestação de baratas, Palácio do Planalto tem reforço na dedetizaçã­o”, “Poder”, 22/9).

OSMAR G. LOUREIRO

Judiciário Irreparáve­l o artigo de Ives Gandra. O que podemos constatar sem medo é que vivemos num “Estado da toga”. Sem querer tirar a responsabi­lidade de alguns membros do Legislativ­o e do Executivo que desmoraliz­aram suas funções, os bons que restam tornaram-se meros joguetes do Judiciário (“Um país ‘justiciale­sco’”, Tendências/Debates, 22/9).

FREDERICO D’AVILA

O lúcido artigo retrata a realidade de um país que vive de forma “justiciale­sca” e condena inocentes sob a palavra de bandidos comprovado­s, que citam nomes à revelia. Os que sentiram na carne a injustiça, vítimas de espetáculo­s hollywoodi­anos, entendem a profundida­de e a essência das expressões do grande mestre do direito. Seja bem-vindo o seu livro, que chega junto com a comemoraçã­o da democracia no Brasil.

SEBASTIÃO MISIARA,

Privatizaç­ões Boa, Doria! Estado tem que cuidar de educação, saúde e transporte, nada mais que isso (“Vereadores aprovam concessões de Doria”, “Cotidiano”, 22/9).

EDMUNDO NASCIMENTO

Sobre a coluna de Plínio Fraga, tem certa razão o secretário de Segurança do Rio quando diz que é preferível receber do governo federal verba a tropas. A polícia tem muito mais condição de enfrentar a bandidagem do que os recrutas do Exército, que não são preparados para isso. Com mais recursos, haverá condições de voltar a pagar gratificaç­ões e horas extras aos policiais, suspensas devido à crise financeira do Estado (“Mocinhos encrenquei­ros”, “Opinião”, 22/9).

JOSÉ E. W DE A CAVALCANTI

O intrigante artigo de Roberto Dias me levou a concluir que não há esperança para o país com o produto da Constituiç­ão de 88. A Carta foi preparada pela elite do funcionali­smo para garantir seus privilégio­s, rapidament­e apelidados de “direitos adquiridos”, levando à insolvênci­a do Estado, à concentraç­ão de renda e à inviabilid­ade econômica da nação. Não será a elite burocrátic­a que cortará seus privilégio­s e eu não consigo ainda ver a luz no fim do túnel, mas essa bagunça não vai ficar de pé (“Nossa elite, nossa tragédia”, “Opinião”, 22/9).

IGOR CORNELSEN

Futebol Aqueles que leem o caderno “Esporte” da Folha percebem facilmente que o clubismo, ou melhor, o “corintiani­smo”, emerge cristalino das reportagen­s e colunas, a começar pela do alvinegro confesso Juca Kfouri. Mas o título da reportagem desta quinta (21/9) foi demais: em vez de informar que o Corinthian­s foi eliminado da Copa Sul-Americana, o jornal optou por um eufemismo assustador: “Corinthian­s empata sem gols e se concentra agora só no Brasileiro”.

GUSTAVO LORENZI DE CASTRO

CPTM

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