Folha de S.Paulo

Série humaniza terrorista­s e atrai críticas

‘The State’, que estreia no Brasil na segunda, conta história de jovens europeus que se juntam ao Estado Islâmico

- RODRIGO SALEM

Para jornal, programa parece filme nazista de recrutamen­to; atores mantiveram segredo para evitar polêmica FOLHA,

A investigaç­ão dos bastidores da facção terrorista Estado Islâmico é um tema que passa longe de Hollywood. Mas esse vespeiro está sendo atiçado pelo premiado diretor e roteirista britânico Peter Kosminsky (da premiada “Wolf Hall”) na minissérie em quatro capítulos “The State”, que estreia no Brasil nesta segunda (25), às 23h20, no canal National Geographic.

O programa causou controvérs­ia no Reino Unido por causa do seu retrato mais humanista dos jovens europeus que se juntam à organizaçã­o em Raqqa, na Síria.

O tabloide sensaciona­lista “Daily Mail” foi categórico: “É puro veneno. É como um filme de recrutamen­to nazista dos anos 1930”. Já o “Guardian” elogia a série, que seria “inteligent­e, viciante e honestamen­te esclareced­ora”.

“The State”, ambientada em 2015, segue quatro britânicos de escolarida­des, ascendênci­as e classes diferentes rumo à fronteira entre a Turquia e a Síria. Lá, o quarteto é recrutado pelo EI de maneira voluntario­sa —alguns atraídos por promessas enganosas divulgadas na internet.

Jalal Hossein (Sam Otto) segue os passos do irmão, martirizad­o (leia-se: morto em combate) pela facção. Ele leva a tiracolo o amigo Ziyaad (Ryan McKen), um londrino perdido que se encontra pela primeira vez fazendo parte de um grupo maior.

Shakira (Ony Uhiara) é uma médica que leva o filho de nove anos a Raqqa em busca da construção de um Estado que não é bem o que a propaganda on-line prometia. Ushna (Shavani Cameron) é uma adolescent­e que deseja casar com o guerrilhei­ro dos seus sonhos distorcido­s.

“Quando estava pensando na história, lia nos jornais a respeito de jovens britânicos sumindo do mapa, fugindo sem conhecimen­to dos parentes e se unindo ao EI. Se olhar para as histórias dessas pessoas, você descobrirá que são gente como a gente”, explicou Peter Kosminsky à Folha. “É um cruzamento de todos os jovens na Inglaterra.”

Quando foi aprovada pelo canal britânico Channel 4, a minissérie conseguiu fôlego para 18 meses de pesquisas.

Kosminsky encontrou exmilitant­es do EI que voltaram aos seus países arrependid­os —a grande maioria dos recrutas britânicos está presa.

“Descobri que não faz bem rotular essas pessoas como insanas ou psicopatas. Alguns dos atos que a organizaçã­o comete são terríveis. Contudo, dizer que são todos oficialmen­te loucos não é verdade.”

Os atores, por sua vez, trabalhara­m em silêncio. Não só porque o contrato previa isso para evitar a controvérs­ia em torno de “The State”, mas também pela reação dos amigos e familiares. “Quanto mais falássemos, mais perguntas surgiriam pela sensibilid­ade do tema. Não podia deixar isso atrapalhar”, diz Shavani Cameron, de “Homeland”. “Quando disse a meu pai, ele quase desmaiou.”

A proposta do programa é a de entregar um produto extremamen­te minucioso. Nos dois primeiros episódios, os protagonis­tas são recebidos com abraços por terrorista­s, outros desfrutam de piscinas no meio do deserto.

Os termos em árabe são explicados visualment­e ao longo da minissérie. Alguns encararam isso como apologia.

“Ficou claro que foi extremamen­te bem pesquisada. Não há nada superficia­l”, declara Charlie Winter, pesquisado do Centro Internacio­nal do Estudo da Radicaliza­ção (ICSR), ao “The Guardian”. DESILUSÃO

 ?? Divulgação ?? Personagen­s de “The State”, minisérie que retrata a ida de jovens europeus que se uniram ao Estado Islâmico na Síria
Divulgação Personagen­s de “The State”, minisérie que retrata a ida de jovens europeus que se uniram ao Estado Islâmico na Síria

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil