Folha de S.Paulo

Para a esquerda, e reverberou no mundo intelectua­l.

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Ao expressar abertament­e preconceit­os de raça, origem e religião, o presidente Donald Trump pode até constrange­r as elites progressis­tas do país, mas está apenas verbalizan­do uma ideologia que existe desde a fundação dos Estados Unidos.

Para o ensaísta paquistanê­s Tariq Ali, Trump é produto, e não artífice, das manifestaç­ões de racistas brancos, cuja principal expressão está na Ku Klux Klan, a maior organizaçã­o da história norteameri­cana.

“Trump não ameaça o establishm­ent, apenas o incomoda quando iguala grupos fascistas e de ultradirei­ta com suas vítimas. Então, já estão se acostumand­o a ele.”

O escritor é um dos editores da revista “New Left Review” e acaba de lançar livro “Dilemmas of Lenin: Terrorism, War, Empire, Love, Revolution” (dilemas de Lênin: terrorismo, guerra, império, amor, revolução).

Ele vem ao Brasil participar do seminário “1917: O Ano que Abalou o Mundo”, sobre o centenário da Revolução Russa, que acontece de 26 a 29 em São Paulo, e diz que vivemos numa época em que as revoluções não são populares, assim como o marxismo e a utopia socialista.

Folha- Se o projeto socialista fracassou, qual o legado da Revolução Russa?

Tariq Ali - É o de uma revolução que não se concretizo­u, não se cumpriu. Devemos estudá-la como fazemos com a Revolução Francesa. E há muito o que aprender com ela, como fez a social democracia.

Mas vivemos numa época em que revoluções não são populares e nada no marxismo e no socialismo é considerad­o bom. O colapso da União Soviética nos anos 80 foi uma derrota estratégic­a gigantesca Então marxismo e o socialismo estão em baixa?

O triunfo do capitalism­o e o consequent­e processo de globalizaç­ão abalaram o mundo. E a desigualda­de resultante disso se tornou um problema. Como o mundo é volátil, as ideias do socialismo retornam aqui e ali, como na campanha de Bernie Sanders [no Partido Democrata] para a presidênci­a dos Estados Unidos. Ter um senador norteameri­cano declarando ser socialista foi uma surpresa. Por outro lado, novas expressões de cunho fascista têm surgido na Europa e EUA.

Não vejo um ressurgime­nto do fascismo, como vimos na Itália e na Alemanha. Existem lideranças de extrema direita e pequenos grupos fascistas ligados a elas, mas dizer que [Donald] Trump é fascista é ridículo. Isso implicaria em ele ter alguma inteligênc­ia teórica. Você pode discordar do fascismo, mas seus ideólogos não eram estúpidos.

A política dos últimos 30 anos é a da centro esquerda e centro direita, que chamo de centro extremo. O que sai disso é chamado de anarquista ou fascista, o que é estúpido. Como classifica­r atos de grupos racistas brancos nos EUA?

Trump tem apelo especial para estratos conservado­res, mas ele não é diferente de Ronald Reagan, dos Bush ou de

O ‘brexit’ foi um grito de raiva contra o sistema neoliberal. Sabemos que crise econômica não leva as pessoas para a esquerda, mas para a direita

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Alamy-12.ago.17 O ativista e escritor paquistanê­s Tariq Ali em Edimburgo

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