Folha de S.Paulo

Tudo parecia tranquilo, mas eu tinha medo; assim é o Rio

- CHRISTIANA TELLES

FOLHA

Sabia o que estava acontecend­o na Rocinha, mas achei que era um evento isolado.

Por volta de 10h, começaram a circular notícias sobre violentos tiroteios no Morro Dona Marta, em Botafogo, e no alto do Jardim Botânico.

Moro no Jardim Botânico, e minha filha estuda em Botafogo. Na mesma hora começaram a aparecer mensagens no grupo de WhatsApp das mães da escola. Todas elas estavam em pânico.

As mensagens desencontr­adas: “Tiroteios em toda a cidade”, “Estamos reféns”, “Crianças presas na escola, deitadas no chão”, “Tiroteio no meio da rua no Humaitá”.

Ao mesmo tempo, começaram a circular boatos de que seis carros lotados de bandidos tinham sido vistos em rua Jardim Botânico e que bandidos estavam descendo a mata do Clube Federal no Alto Leblon fortemente armados.

Depois de ouvir notícias, não confirmada­s, de que as Forças Armadas iriam invadir a Rocinha, decidi buscar minha filha mais cedo na escola. Sai de casa em pânico, mas encontrei a cidade aparenteme­nte em ordem.

Pessoas apreensiva­s andando rápido pelas ruas, mas tudo parecia normal.

Resgatei minha filha, que me contou que não ouviu nada, ficaram trancados na sala de aula. Não teve recreio, pois o pátio é aberto e poderiam ser alvo de tiros. Ela tinha uma aula e uma consulta médica à tarde, ambas canceladas.

Li no Facebook de uma amiga que havia “muito tiro na mata no Jardim Botânico”, ao lado da minha casa.

Olhei pela janela, não vi nada, não ouvi nada. Tudo parecia tranquilo, o dia estava lindo, mas eu tinha medo. Assim é o Rio de Janeiro.

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