Indústria de alimentos propaga maus hábitos
Estratégias vão de venda de porta em porta a entrega de comida por barcos; obesidade no Brasil disparou
Isaac, 9, pesa 62 kg e precisa usar roupas de adolescente. A mãe, Elaine dos Santos, 35, encurta as calças para ele. “Sempre achei que bebê gordinho era melhor”, ela disse. Elaine ficava feliz em satisfazer os desejos do garoto, que incluíam idas frequentes a fast foods e quase nenhuma fruta ou verdura. Quando Isaac começou a ter dificuldade para correr e a se queixar de dores nos joelhos, Elaine percebeu que algo estava errado.
À medida que multinacionais intensificam a presença no mundo em desenvolvimento, elas transformam a agricultura local —agricultores abrem mão do cultivo de variedades de subsistência em favor de cana-de-açúcar, milho e soja, ingredientes básicos de vários industrializados.
Esse ecossistema também domina mercados de bairro, grandes varejistas, distribuidores de alimentos e pequenos vendedores como Celene.
No mundo, as vendas de processados subiram 25% e o consumo de fast food, 30% entre 2011 e 2016, segundo estudo do Euromonitor.
Mercados em desenvolvimento são importantes nesse cenário. Eles concentram 42% das vendas da Nestlé.
“Metade da população mundial não tomou uma Coca nos últimos 30 dias”, disse a investidores em 2014 o presidente da Coca-Cola International, Ahmet Bozer. “Há 600 milhões de adolescentes que não tomaram uma Coca na última semana. A oportunidade para nós é tremenda.”
“A essência de nosso programa é chegar aos pobres”, disse Felipe Barbosa, supervisor da Nestlé. “O que o faz funcionar é o vínculo pessoal entre a vendedora e o freguês.”