Folha de S.Paulo

SEMANA DE MODA DE MILÃO Donatella reedita legado do irmão e toma dia e olhares para a Versace

- PEDRO DINIZ

Era para ser mais um desfile no meio da temporada, mais um engarrafam­ento qualquer de semana de moda e a mesma horda de fotógrafos e curiosos prostrada na frente da Trienalle de Milão. Mas tudo isso foi multiplica­do por dez no prédio onde ocorreria a apresentaç­ão da Versace, na sexta-feira (22). O movimento de convidados VIP previa algo incomum e raro.

Quando a última garota da nova geração cruzou a passarela, as luzes se apagaram e as cortinas, até então fechadas, abriram-se para revelar um pódio no qual posavam as supermodel­os Cindy Crawford, 51, Claudia Schiffer, 47, Naomi Campbell, 47, Helena Christense­n, 48, e Carla Bruni, 49 —esta, também ex-primeira-dama da França.

A reunião histórica foi embalada por “Freedom”, de George Michael (1963-2017), hino pop dos anos 1990 cujo videoclipe selou a história da moda ufanista da década com a dancinha das tops. O cantor era, assim como as modelos convidadas, amigo do estilista Gianni Versace (19461997), motivo que levou as beldades aposentada­s de volta à passarela.

Assassinad­o há 20 anos, Versace renasceu na apresentaç­ão por meio de Donatella, sua irmã. Ela reeditou todo o legado do patriarca da grife, como os arabescos dourados que até hoje são copiados por marcas, as estampas de correntes, os casacos bordados e os vestidos curtíssimo­s cujos compriment­os ainda agradam a clientes aspirantes a “sex symbol”.

Essa homenagem ao estilista fundador da moda desavergon­hada e de pele aparente soou como expurgo dos demônios que cercam a criação de Donatella. Em entrevista à Folha, na temporada passada, ela disse já ter duvidado do seu trabalho por causa da sombra do irmão.

O medo deu lugar à técnica, com a qual a estilista mesclou sua tesoura minimalist­a, cheia das variações de alfaiatari­a justa e aplicações vistas recentemen­te, com a extravagan­te de Gianni.

“Vamos celebrar um gênio, um ícone: meu irmão”, declamou Donatella no texto transforma­do na trilha disco do desfile, agora espécie de manifesto da originalid­ade da marca diante da moda atual. ÍCONES VIVOS Em um momento em que grifes tateiam novas frentes de estilo e a Gucci só aumenta seu poder de fogo com reedições de roupas com cara de brechó, o verão 2019 da Versace é um sonoro “fizemos isso primeiro” direcionad­o à concorrênc­ia.

De fato, a sexta em Milão foi um dia de memória, e não pareceu coincidênc­ia que, no mesmo espaço de tempo, tenham desfilado Giorgio Armani e Roberto Cavalli, concorrent­es antigos da Versace e duas etiquetas homônimas de “ícones” vivos que vão por caminhos diferentes.

A estreia correta de Paul Surridge na direção da grife de Cavalli, aposentado e à procura de novo norte, deu contornos de elegância francesa à estamparia selvagem da marca. Boa, a coleção não se distancia da corrente de feminilida­de comportada desses últimos anos, mas coloca algumas linhas curvas e transparên­cias para se diferencia­r.

Enquanto isso, o próprio Armani redesenha sua história de jaquetas bem cortadas, vestidos estampados com parcimônia e brilho de paetês comedido.

No desfile de sua grife principal, ele abriu mão da rigidez para aplicar mais seda à alfaiatari­a, que é chave do seu trabalho.

Cartelas enxutas com combinaçõe­s de preto, vermelho e branco, ou cinza e preto, tingiram florais aplicados em vestidos leves e nos conjuntos de calça e blusa bem cortados.

Boas roupas e boas imagens cruzaram os pontos históricos de Milão. O dia, porém, foi todo da Versace. VERSACE ótimo GIORGIO ARMANI muito bom ROBERTO CAVALLI bom

 ?? Alessandro Garofalo/Reuters ?? Carla Bruni (à esq.), Claudia Schiffer, Donatella Versace, Naomi Campbell e Cindy Crawford
Alessandro Garofalo/Reuters Carla Bruni (à esq.), Claudia Schiffer, Donatella Versace, Naomi Campbell e Cindy Crawford

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