Folha de S.Paulo

Cantora lusitana faz tributo a Aldir Blanc

Renomada na cena do jazz europeu, Maria João lança disco novo com show hoje e amanhã, no Sesc 24 de Maio

- LUIZ FERNANDO VIANNA

‘Quis fazer à minha maneira. Repetir as coisas é bom para estudar, não para criar’, diz a artista FOLHA

“Linha de Passe”, parceria de João Bosco e Aldir Blanc, começa assim:

“Toca de tatu, linguiça e paio e boi zebu/ Rabada com angu, rabo de saia/ Naco de peru, lombo de porco com tutu/ E bolo de fubá, barriga d’água.”

O vocabulári­o afro-brasileiro e a necessidad­e de uma prosódia similar não assustaram a portuguesa Maria João.

Cantora renomada no cenário europeu do jazz, ela resolveu gravar “A Poesia de Aldir Blanc” (Selo Sesc), que lança no Sesc 24 de Maio.

“Minha mãe era moçambican­a. E o avô que o Aldir tanto amava era português. Minhas raízes africanas se encontrara­m com as raízes portuguesa­s dele”, diz.

Ela descobriu Aldir graças ao convívio com Guinga.

“É claro que eu conhecia ‘O Bêbado e a Equilibris­ta’ e outras, mas não associava ao nome do Aldir. Quando escutei mais coisas, quis fazer o CD”, conta ela.

“É uma cantora consagrada escolhendo um letrista brasileiro para uma homenagem incrível. E ainda me deu de presente uma parceria com André Mehmari e duas com Carlos Paredes”, aprova Aldir.

Mehmari, um dos principais pianistas brasileiro­s da atualidade, é o compositor de “O Sonho”.

Paredes (1925-2004) é o autor das melodias de “Sede e Morte” e “Movimento Perpétuo”, entregues por Maria João a Aldir.

Em “Catavento e Girassol”, parceria Guinga/Aldir, ela diz várias vezes a palavra “você”, tratamento incomum em Portugal, onde predomina o “tu”.

Sua compatriot­a Carminho, no recente CD dedicado a Tom Jobim, preferiu cantar “Por Causa de Você” em inglês, para evitar desconfort­o.

“Não vejo problema em cantar ‘você’”, diz ela. “Há lugares em Portugal em que eu não entendo nada do que dizem. Uma língua, vários sotaques. Isso é o que nos une, não o que nos separa.”

A cantora não gosta do óbvio. Selecionou músicas como “O Coco do Coco” (parceria com Guinga), que fala de sexo sem meias palavras, e “Boca de Sapo”, crônica afrocarioc­a em que ela evoca o estilo de João Bosco.

“O Bêbado e a Equilibris­ta” ficou só voz-e-piano, ela e Mário Laginha, seu parceiro artístico há mais de 30 anos. O bolero “Dois pra Lá, Dois pra Cá” ganhou piano (João Farinha) e efeitos eletrônico­s (André Nascimento).

“Quis fazer à minha maneira. Repetir as coisas é bom para estudar, não para criar”, diz. Guinga, Mehmari, Farinha, Nascimento e o baterista alemão Silvan Strauss participam dos shows. QUANDO sáb. (23), às 16h e 21h; dom. (24), às 18h ONDE Sesc 24 de Maio (r. 24 de Maio, 109, tel. 3350-6300) QUANTO deR$12aR$40 CD R$ 20 (selo Sesc)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil