Folha de S.Paulo

Para especialis­tas, lei trava reforma de prédio antigo

Legislação encarece e até inviabiliz­a mudanças necessária­s no centro

- EVERTON LOPES BATISTA LUISA LEITE

Para aproveitar prédios antigos, de valor arquitetôn­ico e que estão ociosos na região central, é preciso mudar a legislação do município, que encarece as reformas e afasta investidor­es. O diagnóstic­o foi feito por especialis­tas reunidos no seminário Revitaliza­ção do Centro, promovido pela Folha, na terça (19) e quarta (20), com patrocínio do grupo Porto Seguro e apoio da CDHU e do Sesc.

“A maioria dos prédios do centro foi construída num momento em que não existia uma série de preocupaçõ­es com segurança e acessibili­dade”, explicou o ex-secretário de Cultura Nabil Bonduki.

Adaptar esses prédios às exigências atuais custa tão caro que inviabiliz­a empreendim­entos. Segundo Claudio Bernardes, do Secovi-SP, cerca de 80% dos edifícios da região requerem reformas.

As escadas de edifícios comerciais, por exemplo, precisam ter ao menos 1,20 m de largura. “Os prédios foram construído­s antes da lei e, se têm 10 centímetro­s a menos, não dá para aprovar um projeto de reforma. Não há como expandir a escada sem derrubar o prédio inteiro”, disse.

A doação obrigatóri­a de terreno para que a calçada tenha um determinad­o tamanho também é outra dificuldad­e encontrada, de acordo com Bernardes.

“Existe um descasamen­to muito grande entre a lei e a realidade que o empreended­or vivencia”, concordou Philip Yang, fundador do Urbem.

Para ele, algumas iniciativa­s em andamento podem mudar essa situação. Uma delas é o PIU (Projeto de Intervençã­o Urbana), ação da prefeitura que inclui estudos e consulta pública para realizar intervençõ­es em áreas classifica­das como “subutiliza­das e com potencial de transforma­ção”.

“Esse instrument­o permite que os diferentes agentes da cidade conversem sobre a situação de um determinad­o perímetro”, afirmou Yang.

Pela primeira vez o novo Código de Obras traz a preocupaçã­o com o retrofit, segundo a secretária municipal de Desenvolvi­mento Urbano de São Paulo, Heloisa Proença.

Editado há dois meses, ele permite que construçõe­s anteriores a 1992 possam apresentar soluções alternativ­as de iluminação, insolação, circulação, acessibili­dade e estacionam­ento. “Mas essas soluções só podem ser admitidas para atender problemas estruturai­s”, ressaltou. CASA PARA QUEM? Reformas e melhoria na estrutura de prédios já existentes devem ter como objetivo diversific­ar o perfil dos moradores da área central. Na opinião dos debatedore­s, a diversidad­e ajudaria a recuperar a vitalidade da região.

De acordo com Bernardes, 71% dos 3.900 imóveis em estoque na região têm apenas um dormitório, o que atrai mais os jovens profission­ais sem filhos. “Temos que trazer famílias de classes sociais diversas, construind­o escolas e centros comerciais”, disse.

Fabio Luchetti, presidente da Porto Seguro, contou ter visto recentemen­te um casal passando de triciclo na cracolândi­a com uma criança pequena. “Era inusitado, os dependente­s iam abrindo caminho”, disse, frisando a necessidad­e de tentar atrair mais famílias para a região.

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