Folha de S.Paulo

Problema de zeladoria piora a sensação de inseguranç­a

Para debatedore­s, mais iluminação e limpeza ajudariam a revaloriza­ção

- EVERTON LOPES BATISTA LEONARDO NEIVA

A sensação de inseguranç­a experiment­ada pelos frequentad­ores do centro de São Paulo é ampliada por questões como falta de limpeza, inexistênc­ia de banheiros públicos, iluminação insuficien­te, circulação de moradores de rua e usuários de droga.

Não que a região não tenha problemas de segurança. No ranking da violência divulgado pelo governo estadual, a área central figura entre os distritos com baixo número de crimes violentos, mas ocupa o topo dos bairros com maior cresciment­o de crimes contra o patrimônio, como furtos e roubos.

Os números, porém, não explicam tudo. “Tem coisa que é mais medo do que perigo em si. Há violência na cidade inteira e algumas outras regiões também têm usuários de drogas, mas o centro carrega o estigma da cracolândi­a”, disse Fabio Luchetti, presidente da Porto Seguro.

Estigma e degradação não se resolvem com uma grande presença da polícia, mas com limpeza, iluminação, jardins bem cuidados e estabeleci­mentos comerciais funcionand­o normalment­e —condições que o vice-presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos, considera fundamenta­is para a requalific­ação da área.

Para o empresário Facundo Guerra, a existência de banheiros públicos, por exemplo, melhoraria não só a limpeza, mas até a relação, muitas vezes conflituos­a, entre quem trabalha na região e moradores de rua.

“Dar a oportunida­de de o dependente químico usar uma latrina é criar uma relação, é resgatá-lo da animalidad­e”, afirmou Guerra, dono de empreendim­entos na área central, como o Mirante Nove de Julho, atrás do Masp, e o Cine Joia, na Liberdade.

Janaína Rueda, chef e proprietár­ia do Bar da Dona Onça, relatou ter dificuldad­e para encontrar seguranças que tratem de modo adequado pedintes que abordam clientes.

A estratégia do Dona Onça foi “estar aberto ao diálogo” e distribuir aos pedintes alimentos em horários determinad­os. Essa interação, disse Rueda, já rendeu duas contrataçõ­es de pessoas que viviam na rua.

A arquiteta Fernanda Barbara, professora da Escola da Cidade, destacou o caráter acolhedor da região, que recebe pessoas de diferentes etnias e faixas de renda, além de ser atualmente um polo de moradia de imigrantes.

“É preciso compreende­r essa diversidad­e e o fato de o centro guardar o patrimônio público de São Paulo. Sob esse olhar, estamos falando da melhor região da cidade.”

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