Problema de zeladoria piora a sensação de insegurança
Para debatedores, mais iluminação e limpeza ajudariam a revalorização
A sensação de insegurança experimentada pelos frequentadores do centro de São Paulo é ampliada por questões como falta de limpeza, inexistência de banheiros públicos, iluminação insuficiente, circulação de moradores de rua e usuários de droga.
Não que a região não tenha problemas de segurança. No ranking da violência divulgado pelo governo estadual, a área central figura entre os distritos com baixo número de crimes violentos, mas ocupa o topo dos bairros com maior crescimento de crimes contra o patrimônio, como furtos e roubos.
Os números, porém, não explicam tudo. “Tem coisa que é mais medo do que perigo em si. Há violência na cidade inteira e algumas outras regiões também têm usuários de drogas, mas o centro carrega o estigma da cracolândia”, disse Fabio Luchetti, presidente da Porto Seguro.
Estigma e degradação não se resolvem com uma grande presença da polícia, mas com limpeza, iluminação, jardins bem cuidados e estabelecimentos comerciais funcionando normalmente —condições que o vice-presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos, considera fundamentais para a requalificação da área.
Para o empresário Facundo Guerra, a existência de banheiros públicos, por exemplo, melhoraria não só a limpeza, mas até a relação, muitas vezes conflituosa, entre quem trabalha na região e moradores de rua.
“Dar a oportunidade de o dependente químico usar uma latrina é criar uma relação, é resgatá-lo da animalidade”, afirmou Guerra, dono de empreendimentos na área central, como o Mirante Nove de Julho, atrás do Masp, e o Cine Joia, na Liberdade.
Janaína Rueda, chef e proprietária do Bar da Dona Onça, relatou ter dificuldade para encontrar seguranças que tratem de modo adequado pedintes que abordam clientes.
A estratégia do Dona Onça foi “estar aberto ao diálogo” e distribuir aos pedintes alimentos em horários determinados. Essa interação, disse Rueda, já rendeu duas contratações de pessoas que viviam na rua.
A arquiteta Fernanda Barbara, professora da Escola da Cidade, destacou o caráter acolhedor da região, que recebe pessoas de diferentes etnias e faixas de renda, além de ser atualmente um polo de moradia de imigrantes.
“É preciso compreender essa diversidade e o fato de o centro guardar o patrimônio público de São Paulo. Sob esse olhar, estamos falando da melhor região da cidade.”