Folha de S.Paulo

Quem me conhece sabe que eu jamais poderia ser machista

DONO DA RIACHUELO SE DEFENDE APÓS CRÍTICAS AO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DO RIO GRANDE DO NORTE, QUE PEDE INDENIZAÇíO DE R$ 38 MILHÕES

- JOANA CUNHA

Agora, com esse novo eleitor que vota diferente, que tem uma visão de Estado diferente, a mudança está vindo. Nesse episódio do Rio Grande do Norte ficou desmoraliz­ado o conflito artificial anos 50 marxista do patrão contra o empregado Tem 20 fábricas que foram embora, que desistiram, porque ninguém tem o amor pelo Rio Grande do Norte que eu tenho. Eu talvez tenha sido ingênuo. Deveria ter ficado calado, como meu pai me aconselhou. Ele falou: ‘deixa para lá, a gente vai para outro lugar’. Ele se cansou de sofrer Picareta é quem gosta do Estado grande. Merece um crédito de confiança quem está lutando para diminuir o Estado. [O presidente Michel Temer] Vai entregar um governo saneado ou com condições melhores

Flávio Gurgel Rocha, 59

FORMAÇÃO

Administra­ção de empresas pela Fundação Getulio Vargas

CARGO

Presidente da Riachuelo

CARREIRA POLÍTICA

Deputado federal entre 1986 e 1994 invalidar a terceiriza­ção sem que tivéssemos afrontado nenhuma lei.

Em cima disso fomos autuados em R$ 38 milhões, mais a exigência de assinar as carteiras de 4.000 funcionári­os de 60 fábricas terceiriza­das. E tem fábricas dessas que atendem outras empresas. Como vou assinar carteira de todo mundo, se lá está passando peça de outros? O caso é emblemátic­o porque toca também no machismo. A procurador­a que o sr. critica na internet é uma mulher. Se fosse homem, teria feito as mesmas provocaçõe­s?

Quem me conhece jamais me considerar­ia machista. Somos uma empresa que valoriza as mulheres. Me referi a conceitos. Tudo ocorreu com um post didático que fiz quando teve a autuação, tentando mostrar relações de causa e efeito: esses nove anos de pressão e exigências que extrapolav­am a legislação não tinham feito nenhum mal à Riachuelo. Mas tinham feito grande mal ao trabalhado­r. Depois o sr. colocou um pedido de desculpas.

Não foram pelos meus posts que a coisa esquentou. Eu não esperava a erupção de solidaried­ade. Esse grito estava atravessad­o na garganta de tanta gente. Depois dessa consideraç­ão, que fiz: ‘dra, isso que a senhora está fazendo está atingindo é o trabalhado­r’, veio muita coisa agressiva. E não queria estar liderando essa enxurrada. Vieram coisas agressivas, inclusive machistas, mas que absolutame­nte não estavam no meu conteúdo. Outra questão bem atual deste caso: é difícil administra­r nosso comportame­nto na internet?

O que eu apaguei, e me arrependi, é porque fiz um raciocínio aritmético: que o efeito negativo desse cerco regulatóri­o, desse esforço do Ministério Público do Trabalho em ser reconhecid­o como o mais rigoroso, em vez de trazer benefícios, tinha trazido um prejuízo maior do que os cinco anos de seca. O que se perdeu: a fábrica da Coteminas, quatro fábricas da Alpargatas, dois terços da Guararapes. Tem 20 fábricas que foram embora, que desistiram, porque ninguém tem o amor pelo Rio Grande do Norte que eu tenho. Eu talvez tenha sido ingênuo. Deveria ter ficado calado, como meu pai me aconselhou. Ele falou: ‘deixa para lá, a gente vai para outro lugar’. Ele se cansou de sofrer. Numa entrevista que o sr. deu em 2015, disse que acabou o “eleitor súdito de pires na mão para o Estado” e nasceu um “eleitor-consumidor-cidadão”. Esse apoio que o sr. recebeu agora de trabalhado­res que estão protestand­o é fruto dessa mudança de cultura?

Sim. Em uma cidade como esta onde teve a manifestaç­ão, São José do Seridó, antes, na época do Bolsa Família e do Funrural, ela era uma achatada pirâmide social, onde o fiel da balança eleitoral são 60% da base da pirâmide. Um salário mínimo diferencia uma pessoa, dá uma dignidade, a coloca num grau de cidadania mais elevado. Essa transforma­ção se deu em cidades com essa. São pessoas que têm a sua dignidade, seu salário, compram sua moto, sua casa. Medo de perder o emprego também conta para o apoio.

Nada mais legítimo. Mesmo porque a ameaça é concreta e está aí. Isso gerou essa indignação contra o que seria o protetor aos trabalhado­res. Como estão as suas pretensões políticas? Vai ser candidato em 2018?

Zero. Não tenho. Mesmo porque eu tenho consciênci­a das minhas limitações. Talvez tenha havido uma certa confusão porque eu tenho falado muito que eu acredito sobre a s triste figura do “empresário­moita”. Essa omissão causou uma tomada de poder por uma elite burocrátic­a que se apoderou do Estado e gerou essa cadeia de coisas ruins para a competitiv­idade que pode paralisar o país. Mas agora, com esse novo eleitor que vota diferente, que tem uma visão de Estado diferente, a mudança está vindo. Nesse episódio do Rio Grande do Norte ficou desmoraliz­ado o conflito artificial anos 50 marxista do patrão contra o empregado. A solidaried­ade dos nossos funcionári­os: o hashtag “mexeu com o meu painho mexeu com nós tudinho”. O nome do sr. tem sido defendido por empresário­s. O sr. está mesmo fora de 2018?

Eu não sou egoísta a ponto de dizer: “Ah, isso vai mexer com a minha privacidad­e” ou “não porque vai me tirar da minha empresa”. É porque eu não acho que eu seja convocado para qualquer função diferente desta. Eu acho que estou numa cadeira que pode ser mais importante do que a cadeira de qualquer governador do Estado. Como o sr avalia a situação do presidente Michel Temer?

Foi um visionário quando tirou do bolso do colete, antes de a gente enxergar esses ventos liberaliza­ntes, o melhor plano de governo. Picareta é quem gosta do Estado grande. Merece um crédito de confiança quem está lutando para diminuir o Estado. Vai entregar um governo saneado ou com condições melhores.

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