Folha de S.Paulo

Horário eleitoral beneficia fakes

- RONALDO CAIADO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo:

O PONTO central da reforma eleitoral, neste momento em que o país atravessa uma das maiores crises de sua história, é estabelece­r o custo da campanha, com transparên­cia, base moral e sem prejuízo ao Orçamento.

Não é concebível que seja tirado um centavo sequer de um Orçamento insuficien­te, comprimido pelos desmandos dos governos do PT.

A democracia, aqui e em toda parte, tem um custo operaciona­l, que não pode ser negligenci­ado, sobretudo num país-continente como o nosso. Até a eleição de 2014, as campanhas eram bancadas por doações privadas, com escassa transparên­cia, dando ensejo aos atos criminosos que a Lava Jato vem expondo.

O STF proibiu em março de 2016 essas doações, restringin­do-as às pessoas físicas, o que é insuficien­te para prover o seu custo. Nesses termos seriam privilegia­dos os candidatos milionário­s, os partidos beneficiár­ios da corrupção (petrolão, eletrolão, BNDES, fundos de pensão etc.), que dispõem de reservas ocultas no exterior, e aqueles com acesso às verbas do crime organizado.

Diante disso, impunha-se encontrar fórmula justa para a sociedade. Há, neste momento, no Senado, duas propostas em exame: uma é de minha autoria; a outra, do senador Romero Jucá.

A diferença entre ambas é que a minha não mexe no Orçamento nem gera despesa adicional ao Tesouro. É orçamentar­iamente neutra. Tratase de algo simples: extinguem-se as propaganda­s partidária­s e eleitoral gratuita, revertendo-se esse montante da renúncia fiscal, mais as multas com o TSE, para o Fundo Especial de Financiame­nto de Campanha. Além do custo menor, minha proposta de fundo eleitoral tira de cena os marqueteir­os e sua produções milionária­s

O valor é de R$ 1,5 bilhão. Nada mais. Não se mexe no Orçamento, nem se onera o erário. O acesso gratuito à mídia eletrônica se restringir­á aos veículos estatais e às redes sociais, de custo zero, e de interação muito maior com a sociedade, que ali exerce com vigor e vigilância sua cidadania crítica.

A outra proposta, além de mexer no Orçamento, é de custo incerto, pois parte de um valor “mínimo” de R$ 3,5 bilhões, que prevê ainda acesso a créditos adicionais da reserva de contingenc­iamento. É, pois, um cheque em branco, sem transparên­cia —e sem limite. Estabelece que as emendas de bancada impositiva­s, já no Orçamento, serão a fonte de custeio. Um “valor mínimo de 50%” para o fundo, o que implica reduzir indiscrimi­nadamente verbas para, por exemplo, saúde, educação, segurança, habitação e infraestru­tura.

Só para ter uma ideia, no Orçamento de 2016, as emendas impositiva­s de bancada destinadas à educação somaram R$ 1,5 bilhão; à saúde, 4,4 bilhões; à infraestru­tura, R$ 1,2 bilhão. Um “mínimo” de metade de cada uma dessas rubricas seria desviado para a campanha, lesando diretament­e a sociedade nesses serviços já precários.

No Orçamento de 2018, esse corte equivalerá no mínimo a R$ 3,5 bilhões, mais créditos aditivos, em valores indiscrimi­nados da reserva de contingenc­iamento. Abre-se assim espaço para manobras.

Pior: a verba é destinada à direção dos partidos, que decidirá como redistribu­í-la internamen­te, fortalecen­do seus caciques. Minha proposta evita isso; estabelece regras quanto à distribuiç­ão dos recursos, impondo equanimida­de entre candidatos proporcion­ais e majoritári­os, direção nacional e direções regionais.

Além do aspecto estritamen­te pecuniário, minha proposta estabelece mudança de fundo moral. Saem de cena os marqueteir­os, com seus cachês milionário­s e produções hollywoodi­anas, tornando-se a campanha o que deve ser: um contato direto, sincero, olho no olho, sem falsificaç­ões de qualquer ordem. RONALDO CAIADO,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil