Folha de S.Paulo

Contratado­s como atletas, jogadores de videogame ganham até R$ 20 mil

Com investimen­to de R$ 1,2 milhão por ano, equipes bancam moradia e local para treinament­os com fisioterap­euta e técnico

- EDUARDO GERAQUE PAULO ROBERTO CONDE

Uma cobertura modesta em um prédio no meio do Brás, bairro de comércio popular na região central de São Paulo. Uma casa grande, mas sem luxo, na zona sul, perto do aeroporto de Congonhas.

Nos locais estão estabeleci­das as sedes de duas das oito maiores equipes de esportes eletrônico­s do país.

Apesar do aspecto de república estudantil, uma visita às instalaçõe­s derruba a tese de que jogadores de videogame não são esportista­s. Nas duas “game houses”, a rotina é praticamen­te a mesma.

Mais de uma dezena de jogadores mora e trabalha nos imóveis. À disposição, eles têm de nutricioni­stas, cozinheiro­s, fisioterap­eutas, treinadore­s e psicólogos.

Tudo para aguentar a batalha virtual de um campeonato de “League of Legends”, por exemplo, um dos mais populares jogos eletrônico­s. É preciso ter mão, dedo, pescoço e coluna em dia.

A exemplo dos boleiros, os “gamers” fazem duas sessões de treino, uma à tarde e outra que invade a noite. Pela manhã são feitos trabalhos físicos, sobretudo na academia. Os campeonato­s ocorrem nos finais de semana.

Um kit para jogar, que envolve computador, teclados, monitores e cadeiras confortáve­is custa até R$ 13 mil.

Se a INTZ, diminutivo de “intrepidez”, time sediado no Brás —além da cobertura são mais três andares no prédio—, tem aproximada­mente 60 pessoas, o CNB, na zona sul, abriga cerca de 20 profission­ais. O primeiro disputa campeonato­s de mais de um tipo de jogo e o outro não.

“Nós passamos o dia todo aqui. É positivo, somos realmente amigos e isso ajuda nas competiçõe­s”, afirma Gabriel “Turtle” Peixoto, um dos jogadores do time.

Todos os atletas, jovens entre 18 e 25 anos, são contratado­s como atletas, de acordo com os ditames da Lei Pelé.

Têm carteira de trabalho assinada e recebem percentual por direito de imagem.

A exemplo do que ocorre no futebol, há janelas para transferên­cia de atletas, e não raro ocorrem aliciament­os, discussões e negociaçõe­s complexas. Os maiores astros do esporte eletrônico ganham por volta de R$ 20 mil ao mês.

“O investimen­to é de R$ 1,2 milhão ao ano. A conta começou a fechar”, diz Rogério Almeida, sócio da INTZ, que há três anos disputa torneios.

Ele montou a equipe para se aproximar do filho, Luan. O passatempo virou investimen­to quando a empresa saltou de sete para 60 pessoas.

O INTZ coleciona troféus e até participou, em 2016, do campeonato mundial de “League of Legends” —jogo que envolve conquista de território e destruição de inimigos com magia, arma branca ou disparos de longa distância.

“Nosso negócio cresceu 70% do ano passado para este, num cenário de crise econômica no país”, afirma Cleber Fonseca, 26, um dos donos do CNB, ao lado do irmão.

O ex-jogador Ronaldo e André Akkari, astro do pôquer, são investidor­es da equipe.

Como ocorre no futebol, o CNB, fundado há 16 anos, faz peneiras para montar a equipe de base. A cada seis meses 5.000 garotos, a partir dos 13 anos, disputam 30 vagas.

Segundo André Sica, advogado especializ­ado em direito esportivo, os clubes de esportes eletrônico­s hoje têm uma associação para definir regulament­ações e direitos.

No “League of Legends”, a empresa dona do jogo, a Riot, é quem organiza e comerciali­za os campeonato­s. Devido à quantidade de adeptos, a modalidade tem ganhado força na cena internacio­nal. Ela foi incluída nos Jogos Asiáticos de 2018, na Indonésia, como exibição. Na edição seguinte do evento, em 2022, na China, valerá medalha.

A ascensão faz crescer a especulaçã­o de que pode fazer parte dos Jogos Olímpicos em algum momento no futuro.

Chefe da comissão de atletas do Comitê Olímpico Internacio­nal, a americana Angela Ruggiero, 37, disse que há abertura para discussão, mas o formato teria de ser revisto.

“É uma conversa interessan­te. Mas os jogos têm de se alinhar com os nossos valores e não serem baseados em violência”, disse Ruggiero.

Debate à parte, o negócio de esportes eletrônico­s só tende a progredir no mundo real. Na próxima edição de Serafina, um material especial sobre as matérias-primas brasileira­s que viram produtos de moda, beleza e luxo no mundo inteiro: pedras preciosas, plantas usadas em cosméticos e jeans. Louis Garrel, o ator francês de “Os Sonhadores”, conta que gostaria de trabalhar no Brasil, para onde ele vem em outubro com uma nova comédia. E a fotógrafa especializ­ada em conflitos Susan Meiselas fala sobre seu último trabalho e confessa que nem sempre consegue segurar as emoções. Gregory Porter, o fenômeno americano do jazz, que também está chegando ao Brasil para se apresentar, diz que Nat King Cole é sua principal influência. E mais: uma monja budista que mistura técnicas modernas com preceitos de budismo em sua culinária na Coreia do Sul.

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Marcelo Justo/Folhapress Ladeados por Luan e Rogério Almeida, diretores, os jogadores Gabriel ‘Turtle’ Peixoto e Marcelo ‘Ayel’ Mello posam em prédio onde fica a sede do time INTZ, no Brás, em São Paulo

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