Folha de S.Paulo

A quem não interessa o VAR?

- MARILIZ PEREIRA JORGE COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

É DIFÍCIL morar numa cidade que está se despedaçan­do e dar a mínima para quem ganhou os jogos da rodada, se foi ou não gol de mão ou se o Brasileiro deve ter VAR (video assistant referee), sigla em inglês para árbitro assistente de vídeo.

Parece tudo tão superficia­l diante das imagens das pessoas se jogando no chão nas vielas da Rocinha, o acesso a São Conrado fechado, o ônibus na orla pegando fogo. A rotina da zona sul e parte da zona oeste da cidade foi chacoalhad­a como eu nunca tinha visto em cinco anos morando por aqui.

Mas nada diferente do que acontece no dia a dia de boa parte das favelas do Rio, bem longe da rotina dos ricos e remediados. Há meses crianças da rede pública têm sido impedidas constantem­ente de frequentar a escola. O que aconteceu nesta sexta (22) na parte mais nobre não é novidade para os pobres.

Estamos falando da cidade que sediou a Olimpíada há um ano, que viveu algumas das semanas mais festivas da sua história.

Mas, vamos lá. O grande problema do futebol é o uso do árbitro do vídeo, uma discussão desnecessá­ria, uma perda de tempo. Negar o uso dessa tecnologia serve apenas para adiar o uso dela. O futebol precisa se modernizar, assim como já aconteceu com outros esportes.

Passamos dias discutindo se foi gol de mão ou não. Jô vai ser chamado de canalha para todo o sempre. Agora a discussão é sobre a decisão da CBF de utilizar o recurso já na próxima rodada. E dá-lhe análises e mais análises de especialis­tas sobre o assunto.

É muito cedo. A CBF está se precipitan­do. Não podem mudar as regras no meio do campeonato. É todo tipo de bobagem para adiar o inevitável. Fica a pergunta: a quem não interessa o uso do VAR? Ao público, aos jogadores, aos clubes ou aos especialis­tas?

Que seja liberado, que aconteçam os erros inerentes a uma mudança dessas. É claro que será uma grande revolução na história do futebol, mas os exemplos têm sido positivos. Na Europa, o árbitro de vídeo já é realidade e tem acabado com polêmicas desnecessá­rias. Bem, talvez seja esse o problema para os mais conservado­res.

Fica óbvio que muita gente não tem o menor interesse de colocar um fim nas divergênci­as que aparecem no debate esportivo. E lances que poderiam ser resolvidos pela tecnologia seriam eliminados das discussões. É isso que também alimenta as mesas-redondas, as conversas de bar, os posts em redes sociais. Com o fim disso, sobra o que para ser discutido? Ora, a qualidade do futebol jogado. Mesmo que ela esteja em baixa no momento.

Os mais conservado­res dizem que a tecnologia vai acabar com a emoção do jogo, vai gerar paralisaçõ­es desnecessá­rias. Ora, tudo depende das regras. No vôlei há um limite de vezes em que o árbitro de vídeo pode ser usado, justamente para evitar o abuso. Quando é acionado, resolve a questão em menos de um minuto.

No futebol já vimos jogos serem paralisado­s por mais de 10 minutos pelas brigas geradas em lances polêmicos. A tecnologia resolveria isso. Resta à CBF colocar as mãos no bolso para bancar os R$ 15 milhões anuais —o que não deve ser um problema, convenhamo­s— e se adequar às regras da Fifa. Não tem mistério.

O futebol precisa evoluir e o Brasil precisa amadurecer. Por incrível que pareça uma coisa tem a ver com a outra.

O futebol precisa evoluir, e o Brasil precisa amadurecer. Por incrível que pareça uma coisa tem a ver com a outra

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