Mais ricos têm menor adesão à agenda de direitos
DE SÃO PAULO
Além do Índice de Propensão ao Apoio a Posições Autoritárias, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública procurou aferir, em sentido oposto, a propensão dos brasileiros ao reconhecimento de uma agenda de direitos civis, humanos e sociais.
Foram elaborados dez enunciados distribuídos em cinco categorias: gênero (papel do feminismo e da população LGBT); raça (racismo e políticas para mitigá-lo); pobreza e desigualdade; laicidade do Estado; e condições prisionais. Os enunciados foram submetidos aos entrevistados pelo Datafolha.
O índice de apoio à agenda de direitos obtido foi de 7,83 —menor que a média de apoio a posições autoritárias (8,1).
Em contraste com o Índice de Propensão ao Apoio a Posições Autoritárias, que se mostrou mais elevado nas classes D/E, o Índice de Propensão ao Apoio à Agenda de Direitos é menos forte entre pessoas da classe A.
Entre aqueles com renda superior a dez salários mínimos, estrato da classe A, o apoio aos enunciados sobre adoção por casais gays (51%), cotas raciais (59%) e condições prisionais (62%) foi menor que a média (veja ao lado).
“Enquanto os pobres querem mais direitos, os ricos veem os direitos com moderação porque têm certo medo da mobilidade social”, avalia o cientista social Fernando Abrucio.
Para o sociólogo Sérgio Adorno, o fato de alguns temas terem alta aceitação indica uma cultura política que aposta no conservadorismo mas também acena para mudanças.
O estudo detectou que cada um dos grupos citados nos enunciados (mulheres, gays, negros etc.) apresentou comportamentos distintos, numa fragmentação identitária voltada para agendas específicas, sem constituir uma frente ampla por direitos.
A metodologia de medição do apoio aos direitos, segundo os responsáveis pelo estudo, não é tão consistente quanto a utilizada na mensuração das tendências autoritárias. O índice deve ser tomado como tentativa “contrafactual”.