É claro que a percepção da violência é muito superior às
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
Nenhum outro resultado sintetiza melhor o quadro revelado pelo Datafolha sobre a cidade do Rio de Janeiro do que os 72% dos cariocas que aceitam a ideia de mudar da cidade em razão da violência.
A segurança pública é apenas um dos vetores da grave crise no Estado, mas a retroalimenta como poucos, já que seu catalizador é democrático e universal: o medo se mostra majoritário em todos os estratos da população.
Mesmo sentindo-se um pouco mais seguros em seus bairros durante o dia, estratos de maior renda e escolaridade não revelam a mesma sensação à noite e se equiparam à média quando têm que sair pelas ruas da cidade em qualquer período ou horário.
A sensação de insegurança, que, nesse caso, alcança 90% da população, projetase em percentuais elevados tanto nas críticas à gestão do setor quanto na defesa por intervenções externas.
Com exceção da imagem do Bope, a desconfiança e a percepção de baixa eficiência das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e da Polícia Militar acabam se traduzindo em apoio maciço, de 83% dos entrevistados, às ações do Exército na cidade —entre os menos escolarizados, esse índice chega a 92%; ele cai para 74% entre os que têm nível superior. VITIMIZAÇÃO taxas de vitimização, mas as ocorrências recentes, dos últimos 15 dias, tanto de testemunho do uso de armas de fogo quanto de abordagem direta dos entrevistados (5%) superam padrões médios em períodos bem mais longos.
Em Pesquisa Nacional de Vitimização feita pelo Datafolha para o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em 2012, 3% dos habitantes das capitais brasileiras revelavam ameaças com faca ou arma de fogo nos 12 meses que antecederam as entrevistas.
Também é interessante notar que, apesar dos percentuais serem mais baixos, diferente do medo generalizado, tendências de contraste são identificadas nas taxas de vitimização direta.
A experiência pessoal de ser ameaçado com uma arma de fogo é mais frequente entre pardos e negros do que entre brancos. Ela também aumenta à medida que cai a renda familiar.
E a responsabilidade do cenário, segundo os entrevistados, se divide pelas diferentes esferas do Poder Executivo, com destaque para o governo do Estado e Presidência da República. Não à toa, o governador Pezão consegue ser aprovado por apenas 3% dos moradores da capital e só perder para seu padrinho político, Sergio Cabral, o posto de pior governador da história na opinião dos cariocas.
O prefeito Marcelo Crivella também frustra.
A grande maioria dos eleitores enxerga um desempenho abaixo da expectativa, não só na cidade como um todo, como também em seus IMPOPULARIDADE A impopularidade do prefeito Crivella só não é maior por conta da devoção dos evangélicos. Sua taxa de reprovação, que chega a 40% no total da amostra, cai, aproximadamente, pela metade entre os pentecostais e para apenas 6% entre os neopentecostais. Juntos, no Rio, os segmentos totalizam um terço da população.
Dentre os 16% que o consideram um prefeito ótimo ou bom, pelo menos 10 pontos percentuais vêm dos diferentes ramos de sua religião. Sem o apoio dos evangélicos, a aprovação a Crivella não chegaria nos dois dígitos.
Envolta em denúncias de corrupção pesada, marcada pelo desleixo com seu legado e descumprimento de promessas, a escolha da cidade para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 deixa agora na maioria dos cariocas a sensação de prejuízos proporcionais ao tamanho e importância do evento, que tinha tudo para reforçar a cidade como o lugar de onde ninguém gostaria de se mudar.