Adaptação apela a diálogos chulos e cenas escatológicas
DE SAO PAULO
O filme “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, que estreou nos cinemas do país nesta quinta-feira (12), espicha a discussão incessante sobre os limites do humor.
Baseado no livro homônimo escrito pelo comediante e apresentador Danilo Gentili em 2009, o longa mostra dois garotos executando as lições presentes no tal livro — que no filme é um caderno escrito anos atrás e escondido em um banheiro.
Eles têm a ajuda do próprio autor das “maldades” do caderno, interpretado por Gentili. O autointitulado “pior aluno da escola” é agora um homem de quase 40 anos que vive na suíte presidencial de um hotel de luxo, rodeado por mulheres e que atua como um penetra habitué de festas badaladas.
A figura revive seus tempos de estudante e instrui os garotos a declarar guerra contra a escola. O diretor da instituição, que se orgulha de ter erradicado o bullying, é vivido por Carlos Villagrán, o Quico do “Chaves”.
Há momentos controversos. Em um deles, Gentili experimenta variações de “gordo” para apelidar um dos protagonistas. Opta por “rasga mãe”. Outro garoto recebe o apelido de “arrombado”.
O enredo de travessuras em sequência poderia lembrar filmes como “Esqueceram de Mim” (1990), no qual o jovem Macaulay Culkin, sozinho em casa, defende-se de uma quadrilha de ladrões; ou “Matilda” (1996), com a garotinha revidando a conduta tirana de uma diretora.
Em ambos os casos as atitudes das crianças partem delas mesmas. Apenas em “Pior Aluno” há um adulto determinando tudo o que elas devem fazer. Danilo é o idealizador do filme, produtor, roteirista e ator principal. CONTROVERSO Durante exibição para jornalistas, gerou comentários a cena em que com os garotos e um personagem interpretado pelo comediante e apresentador Fábio Porchat. Ainda no início do filme, o homem propõe ajudá-los a encontrar o tal pior aluno desde que o masturbem.
Por meio de sua assessora, Porchat disse à Folha que “a cena é escrota mesmo, e foi escrita para ser. Acho até que tem outras piores.”
Com classificação etária de 14 anos, um dos atores na cena, Bruno Monhoz, sequer poderá ver o filme —ele tem 13. Seu parceiro de cena, Daniel Pimentel, está com 18.
Questionado sobre as piadas com pedofilia, Gentili preferiu não responder.
“Não tenho dúvida de que absolutamente tudo pode gerar humor”, diz o diretor Fabrício Bittar; ele vê o momento como artifício dramático.
Danilo se orgulha em dizer que nenhuma “trolagem” foi considerada controversa a ponto de ser vetada. “Você acha que a gente senta e decide quem vamos ofender? Vamos fazer uma comédia, não passou pela nossa cabeça se iríamos ofender alguém. Parece que passa pela cabeça de quem está fazendo a pergunta”, afirma Gentili.
O diretor avalia que a reflexão proposta pelo filme está na liberdade de abordar temas espinhosos. “Se você começa a travar os assuntos que a arte e a ficção vão tratar, você perde a oportunidade de trabalhá-los.”
FOLHA
“É você que entope a privada todos os dias? Você não tem dó das suas pregas?”. Esse diálogo é uma boa amostra das groselhas que “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” reserva ao público.
Idealizador do filme, Danilo Gentili afirma que a ideia era levar aos cinemas uma espécie de “Sessão da Tarde” politicamente incorreta. Sem sombra de dúvida, mais uma polêmica para a vasta coleção do comediante e apresentador (comanda o “The Noite”, talk show exibido no SBT), louco por um barulho.
As controvérsias em torno desse manual de como tocar o terror dentro e fora da sala de aula nasceram já nas livrarias. Devido às reclamações, o livro homônimo de Gentili, publicado em 2009, foi reclassificado e considerado impróprio para menores de 18 anos.
Antes alunos exemplares (ou “cabaços”, termo repetido à exaustão na história), Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz) viram do avesso após encontrarem um caderno cheio de dicas proibidas.
Guiados pelo “pior aluno” (Danilo Gentili), autor das anotações, os moleques do 9º ano começam a instaurar o caos no colégio, para desespero total do diretor Ademar (Carlos Villagrán, o Quico, de “Chaves”).
Apesar de seguir praticamente à risca o conteúdo original do livro, a adaptação cinematográfica foi liberada para maiores de 14 anos. No longa, a regra é não ter regra. Portanto, vale qualquer coisa para transgredir e tentar arrancar risadas da plateia.
Qualquer coisa mesmo: diálogos chulos; enxurrada de palavrões; o gemidão do WhatsApp; cenas escatológicas de vômito, mijo na cara e cocô voando pelos ares; piadas sobre minorias, religião e até pedofilia; corrupção de adolescentes e por aí vai.
Nas palavras do diretor Fabrício Bittar, um longa de “moleques para moleques”, inspirado em clássicos dos anos 1980, como “Porky’s” (1981), “Curtindo a Vida Adoidado” (1986) e “Karatê Kid” (1984). Só que mais apelativo e menos engraçado.
Àqueles que não se entusi- asmam com o humor de Gentili, “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” serve unicamente para mostrar Villagrán em uma versão diferente da de seu antológico personagem. E talvez para inflar as discussões recentes em torno dos limites da arte.
De resto, todo esse besteirol é apenas uma questão de gosto. E, como dizem, gosto não se discute. Só se lamenta. DIREÇÃO Fabrício Bittar ELENCO Danilo Gentili, Carlos Villagrán, Bruno Munhoz e Daniel Pimentel PRODUÇÃO Brasil, 2017 CLASSIFICAÇÃO 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ruim