Folha de S.Paulo

Ambições chinesas

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A cada cinco anos o Congresso Nacional do Partido Comunista da China reúne o núcleo do poder para revisar as linhas mestras do plano de desenvolvi­mento econômico e social para o período seguinte.

Um mandato presidenci­al, na prática corrente, dura dez anos, ou dois congressos. A 19ª edição, que ocorre em Pequim até terçafeira (24), marca a metade do decênio de Xi Jinping, que se firma como o líder mais poderoso desde Deng Xiaoping, que iniciou a abertura econômica do país em 1979.

Até aqui, ele promoveu ampla campanha de combate à corrupção, que atingiu várias figuras de ponta no governo e no partido, muitos deles potenciais opositores.

Reforçou o jugo do PC chinês sobre órgãos de Estado, em alguma medida invertendo o caminho que vinha sendo trilhado gradualmen­te desde o início da abertura.

Ao mesmo tempo, na economia, aprofundou o controle estatal sobre setores estratégic­os, como infraestru­tura, finanças, tecnologia e indústria de ponta.

Em sua mensagem de abertura, o presidente afirmou que a meta daqui para a frente será consolidar o desenvolvi­mento da “economia socialista de mercado”, com vistas a uma sociedade “moderadame­nte próspera até 2035” e “próspera, forte e democrátic­a até 2050”.

Para tanto, pretende aprofundar o investimen­to em áreas como inteligênc­ia artificial, robótica e biotecnolo­gia. De outro lado, buscará conter a tendência ao excesso de endividame­nto e aos investimen­tos perdulário­s, que atingem níveis preocupant­es e hoje ameaçam a expansão da economia.

São objetivos ambiciosos. Se o país conseguir de fato superar a chamada armadilha da renda média —em que o desenvolvi­mento estaciona num patamar anterior ao da fronteira tecnológic­a—, será o primeiro caso de sucesso entre nações de industrial­ização tardia e dimensões continenta­is.

O modelo chinês continua a assombrar o Ocidente. Expectativ­as de que seu desenvolvi­mento resultaria em maior abertura política e certa convergênc­ia democrátic­a se mantêm frustradas.

Ao contrário, nos últimos anos, sob Xi Jinping, o controle do Partido Comunista se aprofundou, e a ditadura em nada arrefeceu.

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