Dá para ser ético com animais?
SÃO PAULO - Se você é um ser humano com bons sentimentos, provavelmente se opõe à vaquejada, uma forma de exploração animal que, embora não resulte na morte do bovino, estressa-o e pode feri-lo. Mas, se somos contra a vaquejada, como admitimos o hambúrguer?
Se você é um ser humano decente e tem um gatinho, deve deixá-lo brincar no quintal. Mas, como gatos são caçadores recreativos, as voltinhas dos felinos nos quintais têm um custo em vidas. Nos EUA, com 94 milhões de gatos domésticos, estimase que, a cada ano, meio bilhão de pequenos animais como pássaros sejam vitimados pelos instintos assassinos de nossos pets. Mesmo quando informada da escala do genocídio, a maior parte dos donos de gatos diz que não prenderia o bichano.
Questões como essas são exploradas por Hal Herzog no delicioso “Some We Love, Some We Hate, Some We Eat” (alguns nós amamos, alguns odiamos, alguns comemos). Recorrendo a um bom “blend” de pesquisas científicas e histórias envolvendo humanos e não humanos, ele nos lança no campo da antrozoologia, a nova ciência que procura entender as interações entre pessoas e bichos.
O rol de curiosidades que o livro oferece é inesgotável. Ter um animal é bom para a saúde? Cachorros realmente se parecem com seus donos? Andar com um cão aumenta suas chances de conseguir um(a) namorado(a)? Por que há três vezes mais exvegetarianos do que vegetarianos?
É no campo da ética, porém, que as perguntas ficam cabeludas. Quais são nossas obrigações para com animais? Podemos mantê-los como pets? Utilizá-los em experiências científicas? Comê-los? Matá-los para evitar zoonoses? E se for para nossa diversão, como nas rinhas de galo?
A conclusão a que Herzog chega é inequívoca: a única consistência na forma como nos relacionamos com animais é a inconsistência. Qualquer que seja a posição ética que adotemos, ela levará a paradoxos. helio@uol.com.br