Folha de S.Paulo

Lava Jato confirma ordens de pagamento à cúpula do PMDB

PGR encontrou arquivos com menções a repasses no sistema da Odebrecht

- REYNALDO TUROLLO JR. RUBENS VALENTE

Planilhas da empresa indicam entregas de propina a Padilha, Geddel, Cunha, Moreira Franco e Henrique Alves

Em busca de provas para corroborar os depoimento­s dos delatores da Odebrecht, a Procurador­ia-Geral da República encontrou, no sistema eletrônico da empresa, arquivos originais com os nomes do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima. A PGR localizou ordens de pagamentos e descartou fraudes na criação dos arquivos.

Os relatórios da SPEA (Secretaria de Pesquisa e Análise), órgão técnico da PGR, foram produzidos por um perito criminal entre 27 de julho e 8 setembro deste ano.

Os nomes dos dois peemedebis­tas estavam em uma planilha no sistema da Odebrecht que os associa aos codinomes “Fodão” e “Babel”, respectiva­mente.

A análise da PGR também encontrou arquivos originais com programaçõ­es de pagamentos para o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) e os ex-deputados Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Alves (RN), todos do PMDB.

Segundo os relatórios, eles estavam identifica­dos por codinomes que, para serem vinculados às pessoas, dependem dos depoimento­s.

Para investigad­ores, a importânci­a dos arquivos reside no fato de mostrar que foram criados e modificado­s na época dos repasses delatados, e não forjados recentemen­te.

A existência deles, porém, não comprova a efetiva entrega do dinheiro aos políticos.

Todos eles —Padilha, Moreira, Cunha, Geddel e Alves— são apontados nas delações como operadores de arrecadaçã­o de recursos da empreiteir­a para o PMDB. Os três últimos estão presos.

Os relatórios foram anexados aos autos da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e a cúpula do PMDB, incluindo os ministros Padilha e Moreira Franco.

“Após intenso trabalho de tratamento de informaçõe­s”, segundo relatórios, 1,7 milhão de arquivos foram analisados, sobretudo e-mails e planilhas do Drousys, sistema de comunicaçã­o usado pela Odebrecht para gerenciar propinas.

Conforme um dos relatórios, de 8 de setembro, a PGR encontrou no Drousys uma planilha chamada “programaçõ­es semanais-2010”, com uma ordem de pagamento de R$ 200 mil para “Fodão” na data de 27 de julho de 2010.

O arquivo foi criado em 2 de janeiro de 2007 e modificado pela última vez em 8 de novembro de 2010, segundo o perito. Outra planilha afirma que o pagamento dos R$ 200 mil foi efetivado em 3 de agosto de 2010 em Porto Alegre.

Ainda segundo o relatório, uma terceira planilha, “Tradução-07-17-08-17-54”, trazia em uma aba denominada “BJ” —possível referência ao executivo Benedicto Júnior— a vinculação do apelido “Fodão” ao nome de Padilha.

De acordo com o perito, os metadados dessa planilha mostram que ela foi criada “Observando-se os metadados da planilha denominada ‘programaçõ­es semanais-2010’”, escreve o perito, “verifica-se que o arquivo foi criado em 2 de janeiro de 2007 à 1:23 PM e a data da última modificaçã­o feita na planilha foi 8 de novembro de 2010, à 1:17 PM” Em outra planilha, chamada “Tradução-07-17-08-17-54”, sob uma aba com a inscrição “BJ” –possível referência ao executivo Benedicto Júnior, hoje delator–, análise encontra o codinome “Fodão” vinculado a Eliseu Padilha Arquivo com o nome do atual ministro-chefe da Casa Civil encontrado no Drousys em junho de 2006 e modificada pela última vez em julho de 2008, quase seis anos antes do início da Lava Jato.

Segundo outro relatório, de 27 de julho, o arquivo “programaçõ­es semanais-2010” também mostra sete ordens de pagamento para “Babel” em 2010, para serem realizados em Salvador. A primeira delas, de R$ 155 mil, por exemplo, indica “Obra: Tabuleiros Litorâneos”.

Na outra planilha, “Tradução-07-17-08-17-54”, o codinome “Babel” está associado a “Gedel V. Lima”, ainda de acordo com esse relatório.

Outros arquivos apontam ainda repasses atribuídos a Padilha por meio dos codinomes “Primo”(R$ 4,6 milhões em 2008 e 2014) e “Bicuira” (R$ 1,4 milhão em 2010) —mas não há, nos relatórios, a informação de que exista no próprio Drousys a associação entre o ministro e tais apelidos.

Sobre Moreira Franco, um dos relatórios aponta ter encontrado arquivos com ordens de pagamentos no valor de R$ 7 milhões a “Angorá” —apelido dado ao ministro, segundo as delações.

Dois dos relatórios afirmam ter encontrado arquivos de pagamentos programado­s a Henrique Alves, sob os codinomes “Fanho” (R$ 2 milhões em 2014) e “Rio Grande” (R$ 112 mil mais US$ 67,2 mil no ano de 2010).

Outros três documentos indicam repasses atribuídos a Cunha, identifica­do, segundo delatores, pelos apelidos “Calota” (R$ 300 mil em 2014), “Acadêmico” (R$ 3,05 milhões de 2010 a 2014) e “Caranguejo” (ao menos R$ 28,6 milhões entre 2008 e 2014).

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Pedro Ladeira/Folhapress O então ministro Geddel Vieira Lima e o ministro Eliseu Padilha em Brasília, em 2016

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