Folha de S.Paulo

Empresário fechou negócio com Vivo após reunião de Lula

Jonas Suassuna anunciou parceria comercial após expresiden­te se encontrar com executivos da Telefônica

- ITALO NOGUEIRA

Ele é sócio de filho do petista e dono de metade do sítio em Atibaia (SP), mas não foi denunciado no caso

O empresário Jonas Suassuna, sócio do filho do expresiden­te Lula, anunciou parceria comercial com a Vivo cinco meses após encontro do petista com executivos espanhóis da Telefônica, dona da operadora brasileira. O acordo incluiu a “Nuvem de Livros” entre os produtos oferecidos aos clientes da empresa de telefonia no Brasil.

Marco Aurélio Vitale, exdiretor do grupo empresaria­l de Suassuna, afirmou em entrevista à Folha que ouviu de Kalil Bittar, também sócio de Fabio Luís Lula da Silva, o Lulinha, que o petista iria interceder junto aos executivos espanhóis em favor do negócio.

“O Kalil Bittar falou para o Jonas que o ex-presidente iria para a Espanha e que teria uma reunião com a presidênci­a da Telefônica, e que seria falado da ‘Nuvem’ para viabilizar um negócio com a Vivo aqui. E foi o que aconteceu. Não tenho detalhes da reunião, mas ele [Jonas] volta já procurando o [Antônio Carlos] Valente [à época presidente da Telefônica no país]”, disse o ex-executivo do Grupo Gol, que atua nas áreas editorial e tecnologia e não tem relação com a companhia aérea.

O anúncio da parceria entre a Editora Gol e a Vivo ocorreu em setembro de 2011, durante a Bienal do Livro. Entre os dias 12 e 17 de abril daquele ano, Lula viajou à Espanha para, entre outros compromiss­os, quatro eventos com executivos da Telefônica —almoço, jantar, palestra e uma visita à sede da companhia.

Suassuna se encontrou com o ex-presidente na Espanha. Ele assistiu a uma palestra de Lula a funcionári­os da Telefônica, além de ter visitado ao lado do petista o estádio Santiago Bernabeu, do Real Madri. Mas nega interferên­cia do petista em favor do negócio.

O empresário é dono de metade do sítio em Atibaia atribuído ao ex-presidente Lula. No terreno de sua propriedad­e não houve reformas —apenas a instalação de uma cerca— o que fez com que a Procurador­ia não o denunciass­e no caso. É também sócio de Lulinha na Play TV.

O acordo permitiu que a “Nuvem”, após três anos de concepção, fosse oferecido aos clientes da Vivo no país. Ela chegou a registrar, de acordo com a empresa de telefonia, 1,4 milhão de usuários. O produto rendeu à editora de Suassuna R$ 29 milhões líquidos.

O acordo pela ‘Nuvem’ ocorreu logo após a incorporaç­ão da Vivo pela Telefônica.

Em julho de 2010, a espanhola Telefônica comprou os 30% da Vivo que pertenciam à Portugal Telecom, ficando com 60% da empresa de telefonia móvel. Ela comprou o restante das ações no mercado por meio de oferta pública de ações em março de 2011.

Em maio, a incorporaç­ão da Vivo pela Telefônica foi anunciada.

Não é a primeira vez que é apontado um ato de Lula que beneficiou Suassuna e a “Nuvem”, um dos principais produtos do Grupo Gol. A Folha revelou em fevereiro do ano passado que uma lei assinada pelo então presidente estimulou a criação do aplicativo.

A lei, de maio de 2010, obrigou todas as instituiçõ­es de ensino públicas e privadas a possuir, até 2020, pelo menos uma biblioteca com no mínimo um título por aluno. A coleção pode existir “em qualquer suporte”, abrindo margem para biblioteca­s virtuais.

Segundo relato de Suassuna, o projeto estava em elaboração três anos antes da sua concretiza­ção.

 ?? Angel Martinez - 16.abr.2011/Real Madrid ?? Lula em viagem a Madri com Jonas Suassuna (2º da dir. para a esq.) e Lulinha (à dir.)
Angel Martinez - 16.abr.2011/Real Madrid Lula em viagem a Madri com Jonas Suassuna (2º da dir. para a esq.) e Lulinha (à dir.)

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