Folha de S.Paulo

Diagnóstic­o de bullying ainda é falho no país

- PAULO SALDAÑA

O Brasil não tem um mapeamento claro sobre a dimensão da violência dentro das escolas. Não há estudos abrangente­s sobre a temática, o que, segundo especialis­tas, dificulta não só um diagnóstic­o do problema, mas também uma intervençã­o mais adequada.

Miriam Abramovay, que pesquisa sobre violência nas escolas, afirma que não é possível saber quais são os fatores de risco, tampouco possíveis estratégia­s de proteção.

“Estados e municípios não querem ver expostos dados negativos, muito menos sobre a violência nas escolas”, diz ela, ligada à Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Para ela, escolas do sistema privado podem ser ainda mais resistente­s.

Em parceria com o Ministério da Educação e a OEI (Organizaçã­o dos Estados Ibero-Americanos), a Flacso realizou uma pesquisa em 2015 com 6.700 estudantes das sete capitais mais violentas do país. Divulgado no ano passado, é o último levantamen­to de maior fôlego feito no Brasil.

Quatro em cada dez estudantes (do 6º ano do ensino fundamenta­l ao 3º do médio) afirmaram já terem sofrido violência física ou verbal dentro da escola no último ano.

Em 65% dos casos, o agressor foi um colega —15% assumem já ter cometido alguma violência. Um quarto das agressões relatadas ocorreram dentro da sala de aula.

A psicopedag­oga Quézia Bombonatto afirma que a problemáti­ca envolve alunos, escolas e famílias. “As escolas precisam sempre conversar com o grupo, é um trabalho que precisa ser feito permanente­mente, sem esperar que algo aconteça”, diz ela, conselheir­a vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedag­ogia.

Mudanças de comportame­nto, queda de rendimento e desinteres­se em ir à escola, por exemplo, podem ser sinais de que algo pode estar errado. “Tanto a vítima de ataques quanto o algoz precisam de atendiment­o.”

A falta do diagnóstic­o não significa que nada tem sido feito. Nas escolas públicas de ensino fundamenta­l, 74% dos diretores dizem que têm projetos com a temática da violência e 83%, sobre bullying. Os dados são do questionár­io da Prova Brasil de 2015.

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