Folha de S.Paulo

“Os democratas estão furiosos com a maneira como o Facebook agiu durante as eleições”, diz o analista político

- SILAS MARTÍ

Quando o Facebook criou uma carinha vermelha de raiva dentro de sua opção de curtir, executivos da empresa não imaginavam que o ódio fosse respingar neles.

Em vez de rostinhos sorridente­s, a rede social e outros gigantes do Vale do Silício, entre eles Google e Twitter, enfrentam agora a maior crise de imagem de sua história, um reflexo do escândalo de anúncios e perfis falsos usados por russos para rachar o espectro político americano.

Na visão de analistas políticos e de parte dos eleitores do país, os tentáculo de Moscou estrangula­ram a campanha presidenci­al da democrata Hillary Clinton e pavimentar­am a chegada inesperada de seu rival republican­o, Donald Trump, à Casa Branca.

Também ajudaram a sepultar de vez uma era que David Banks, autor que pesquisa a influência das redes sociais em eleições americanas na Universida­de do Estado de Nova York, gostava de chamar de “lua de mel” entre o Vale do Silício e Washington.

“Essas empresas de tecnologia nunca foram alvo de desconfian­ça, mesmo controland­o grande parte de nossas vidas”, diz Banks. “Mas agora está claro que as redes sociais têm um apetite voraz por dinheiro, o que levanta questões sobre o perigo que elas representa­m quando mani- festam interesses políticos.”

Esses interesses, no caso, costumavam dar as caras na forma de doações polpudas ao Partido Democrata, defensor de uma agenda progressis­ta que eles viam como uma extensão natural do liberalism­o ensolarado da Califórnia.

Empresário­s do Vale do Silício, por exemplo, sempre defenderam leis mais brandas de imigração. Nas últimas eleições, quase todos os cerca de R$ 26 milhões doados por trabalhado­res do setor tecnológic­o foram para Hillary Clinton, enquanto Trump ficou com menos de R$ 1 milhão, segundo o site de monitorame­nto Crowdpac.

Mas o escândalo do envolvimen­to russo no pleito parece ter virado de vez esse jogo.

Executivos dessas empresas vêm perdendo prestígio entre progressis­tas e já vêm doando mais dinheiro a congressis­tas republican­os, movimento que analistas entendem como uma tentativa de barrar o esfoço, caro aos democratas, de regular a compra de anúncios e controlar a disseminaç­ão de notícias falsas pela internet. AMBIÇÕES POLÍTICAS Franklin Foer. “A briga em torno dos anúncios russos vai causar muito estrago.”

Mark Zuckerberg, dono do Facebook que ensaiava se lançar à Casa Branca com uma série de viagens recentes pelos EUA, já sabe disso.

“Estou convencido de que eles sabiam o que estava acontecend­o durante as eleições, mas é a visão de mundo deles que permite isso”, diz Foer. “A plataforma que

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Facebook/Reprodução Mark Zuckerberg, dono do Facebook, em uma de suas viagens pelos EUA; analistas veem tentativa de promoção política

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