Brasil esconde juiz 60 dias em embaixada em Caracas
Nomeado por opositores de Maduro, Idelfonso Ifill Pino fugiu para a Colômbia
Alegando perseguição pelo regime do ditador Nicolás Maduro, um juiz do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela se refugiou por cerca de dois meses na embaixada do Brasil antes de fugir por terra para a Colômbia.
Idelfonso Ifill Pino se abrigou na representação brasileira em Caracas enquanto organizava sua fuga por terra para o país vizinho. A informação foi divulgada pelo jornal “O Globo” neste sábado (21) e confirmada à Folha ,em caráter reservado, por fontes do governo brasileiro.
Procurado, o Ministério das Relações Exteriores respondeu apenas que “o Brasil tem longa tradição de asilo diplomático, mas não comenta casos específicos”.
Ifill Pino é um dos 33 juízes designados pela Assembleia Nacional venezuelana —controlada pela oposição. O governo venezuelano não reconhece nem a assembleia nem esses magistrados.
Onze deles escaparam do país nas últimas semanas após buscarem refúgio em embaixadas diversas.
O embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, manteve a presença de Ifill Pino em sigilo por mais de 60 dias, sem informar os funcionários do posto. O diplomata tentou articular com autoridades locais a concessão de um salvo-conduto para o magistrado deixar o país, mas o regime rejeitou a solicitação.
O juiz deixou a Venezuela clandestinamente e cruzou a fronteira com a Colômbia de carro, com auxílio de outro membro do TSJ, em episódio que lembra a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil em 2013.
Opositor do governo Evo Morales, ele fugiu de carro com ajuda do diplomata Eduardo Saboia após passar 454 dias em uma sala da Embaixada do Brasil em La Paz.