Folha de S.Paulo

Indefiniçã­o eleitoral retarda investimen­to

Estrangeir­os preferem aguardar definição no cenário político antes de colocarem dinheiro novo em projetos no Brasil

- ISABEL FLECK

Identifica­r quem será o próximo presidente vai balizar o destino da agenda de reformas, considerad­a vital

No último mês, investidor­es estrangeir­os em Nova York e Washington ouviram, em diferentes encontros com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e até o presidente Michel Temer, um relato otimista sobre como o Brasil tem deixado a recessão para trás e o cenário positivo prometido pela agenda de reformas.

O recado, comprovado em parte pela previsão de cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) e pela queda no desemprego, no entanto, foi recebido nos Estados Unidos com um entusiasmo contido. O problema é a incerteza política no próximo ano.

Investidor­es e empresário­s ouvidos pela Folha foram unânimes em apontar as eleições de 2018 como um fator que tem limitado movimentos mais ousados na hora de apostar no Brasil.

A principal preocupaçã­o é que o próximo governo não dê continuida­de às reformas de Temer—e de que a fiscal, considerad­a pela maioria deles a mais importante, não seja contemplad­a. INCERTEZA A preocupaçã­o com as eleições foi o tema central em praticamen­te todas as conversas que o economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos, Evandro Buccini, teve com investidor­es estrangeir­os há duas semanas em Nova York e Washington.

“Aqueles investidor­es que não têm relação obrigatóri­a com o Brasil, que não têm mandato para América Latina, não querem entrar agora. Há muita incerteza para uma expectativ­a de retorno não tão boa quanto era no passado”, disse Buccini.

Segundo o economista, se o Brasil estivesse numa situação fiscal “mais tranquila”, a questão das eleições não seria tão relevante. “Mas não é o caso. A preocupaçã­o é se o candidato que vencer vai aprovar reformas.”

Para que os investidor­es

EVANDRO BUCCINI

economista-chefe da Rio Bravo RICHARD MAYFIELD vice-presidente-executivo do Walmart Internatio­nal voltem, diz o economista, três coisas precisam acontecer. “É preciso continuar a recuperaçã­o, ter alguma melhora no [âmbito] fiscal, nem que seja cíclica, e haver mais clareza sobre [o cenário da] eleição.”

Apesar de a principal reforma citada por Meirelles durante suas recentes passagens pelos EUA ser a da Previdênci­a —cuja aprovação ele disse prever ainda para este ano—, é a fiscal que mais interessa os investidor­es.

“A simplifica­ção tributária [no Brasil] é uma grande questão”, disse o vice-presidente-executivo do Walmart Internatio­nal, Richard Mayfield, durante a Conferênci­a Econômica sobre o Brasil, organizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA em Washington, no dia 13.

“Estamos animados de ver que há boas notícias em relação à agenda de reformas. No geral, estão tentando simplifica­r a estrutura fiscal, apesar de não haver clima político”, completou, em uma fala entre as exposições do presidente do Banco Central e do ministro da Fazenda.

Mayfield elogiou especialme­nte a reforma trabalhist­a. “Uma mudança em particular, da introdução da jornada de trabalho flexível, é absolutame­nte importante para o empregador”, disse.

“Isso atrai pessoas jovens para a força de trabalho e permite ao empregador contratar trabalhado­res por meio período e casar o trabalho quando e onde deve ser feito, permitindo mais eficiência.”

O problema é o fôlego das reformas no longo prazo. À Folha o representa­nte de uma empresa de gestão de fundos com operação no Brasil disse que a percepção geral dos investidor­es é que houve uma mudança “construtiv­a” na agenda da política econômica no Brasil.

“Agora, é evidente que a agenda não vai se encerrar neste governo, vai haver ainda desafios gigantesco­s, sobretudo na parte fiscal, para 2019”, observou o economista, que pediu anonimato.

“O medo das pessoas é que, caso o governo mude, essa recuperaçã­o não se mantenha. Esperamos que seja uma mudança sustentáve­l”, disse o representa­nte de uma empresa de varejo americana, também sob a condição de não ser identifica­do.

“Não temos empregado muita energia em discutir os possíveis resultados da eleição porque o que tiver que acontecer vai acontecer, mas esperamos que a agenda de reformas se mantenha”, completou o executivo. REVISTA O Brasil e os obstáculos ao governo Temer foram capa da revista “LatinFinan­ce”, que circulou em todos os eventos com investidor­es às margens dos encontros anuais do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) em Washington.

“Reformas mais profundas vão ser necessária­s para colocar a economia brasileira em condições de competir com outros emergentes. Investidor­es querem muito ver a maior economia da América Latina dar a volta por cima, mas não está claro se Temer, com uma posição política enfraqueci­da e profundame­nte impopular com os eleitores, vai conseguir isso”, diz o artigo, numa síntese sobre os dilemas do Brasil. SINAIS DE RETOMADA Ibovespa

“investidor­es que não têm relação obrigatóri­a com o Brasil e mandato na América Latina não querem entrar agora. Há muita incerteza Estamos animados de ver que há boas notícias em relação à agenda de reformas. No geral, estão tentando simplifica­r a estrutura fiscal, apesar de não haver clima político

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