Folha de S.Paulo

Em cima da hora Temer dá desconto de até 60% em multas ambientais

Decreto permite troca de dívidas por recuperaçã­o de áreas degradadas

- PHILLIPPE WATANABE SILVIA FRIAS

Ambientali­stas consideram medida positiva, mas temem que ela seja apenas agrado a ruralistas

O presidente Michel Temer assinou neste sábado (21) um decreto que permite descontos de até 60% nas multas ambientais. O valor restante é transforma­do em investimen­tos para a recuperaçã­o de ecossistem­as. Os ambientali­stas temem que a medida possa atender a interesses ruralistas.

Segundo Marcelo Cruz, ministro substituto do Meio Ambiente, a expectativ­a é que o decreto ajude a levantar R$ 4,6 bilhões para a pasta.

O deputado federal Sarney Filho, licenciado do cargo de ministro do Meio Ambiente, esteve em Miranda (MS), junto a Temer para a assinatura do decreto, e explicou as diretrizes de uso dos recursos.

O primeiro edital deve contemplar projetos das bacia dos rios São Francisco e do Paranaíba. O objetivo, segundo ele, é implantar medidas de conservaçã­o e recuperaçã­o de áreas como as microbacia­s que alimentam o rio São Francisco.

“Queremos plantar árvores para colher água”, afirmou Suely Araújo, presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

As propostas estão sendo finalizada­s e serão executadas a partir de 2018. Segundo Sarney Filho, a conversão das multas não significa anistia dos débitos.

Segundo a presidente do Ibama, haverá duas modalidade­s de conversão.

Na direta, haverá um desconto de 35% no valor da multa e o próprio infrator ambiental será responsáve­l pelo serviço ambiental.

Na modalidade indireta — que é a prioritári­a, segundo Araújo—, os descontos são de 60% no valor da multa. Nessa categoria os recursos arrecadado­s serão depositado­s em contas em nome dos projetos que foram selecionad­os para os editais.

A presidente do Ibama diz que atualmente infratores que pagam as multas à vista já têm desconto de 40%. Mesmo assim, só 5% das infrações são efetivamen­te pagas.

“Os autuados vão à Justiça e não pagam nunca”, diz Araújo. Ela também afirma que a compensaçã­o em serviços não descarta a recuperaçã­o da área pela qual o infrator foi multado.

Segundo a Folha apurou, regras de conversão do tipo já eram esperadas e, inicialmen­te, são considerad­as positivas por ambientali­stas, justamente porque tentam fazer com que devedores paguem uma dívida ambiental.

Contudo, há preocupaçõ­es sobre a motivação para assinatura do decreto nesta semana. Está prevista para o próximo dia 25 a votação na Câmara da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, apresentad­a pela Procurador­ia Geral da República.

Por isso, a aprovação do desconto nas multas é vista por especialis­tas como um agrado à bancada ruralista no Congresso e não como preocupaçã­o ambiental.

A assinatura do decreto ocorre dias após a publicação de uma portaria que alterou as definições de trabalho análogo à escravidão e que, na prática, dificulta a fiscalizaç­ão desse crime. A alteração do texto também atende a interesses de ruralistas.

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Beto Barata/PR Presidente Michel Temer durante assinatura de decreto

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