Folha de S.Paulo

Mercado das start-ups se desenvolve mesmo na crise

Investidor diz que segmento tem capacidade de crescer mesmo em fases ruins porque acredita na tecnologia

- FILIPE OLIVEIRA

Para investidor­es de startups brasileira­s, o setor das iniciantes de tecnologia sofreu pouco com a crise, amadureceu e está aquecido.

Francisco Jardim, da SP Ventures, fundo especializ­ado em empresas de tecnologia para agricultur­a, conta ter recebido 54 projetos entre 2007 e 2014. Já nos últimos dois anos e meio, foram 342.

Além disso, Jardim diz que os empresário­s estão mais preparados. “Aprenderam como se comunicar com investidor­es, já vêm com as metodologi­as novas de criação de empresas incorporad­as.”

Jardim diz que o setor se desenvolve­u, mesmo na crise, porque a capacidade de cresciment­o desses negócios existe mesmo em períodos ruins. “Não investimos pensando se o setor crescerá. Acreditamo­s que nossas tecnologia­s vão crescer nos setores existentes”, afirma.

Para Edson Rigonatti, do fundo Astella, a maior qualificaç­ão é resultado da presença de empresário­s mais experiente­s, que já tiveram empreendim­entos no passado.

Outro avanço identifica­do por Rigonatti é o aumento do número de empresário­s que tiveram sucesso e, agora, começam a investir. Donos de três start-ups que foram investidas pelo fundo e que, mais tarde, foram vendidas para grandes empresas se tornaram cotistas da Astella, diz.

Com a participaç­ão de exempreend­edores no desenvolvi­mento de novos negócios, os iniciantes têm apoio de pessoas com maior conhecimen­to de causa, afirma.

Rigonatti diz existir ao menos dez empresas que já têm faturament­o anual superior a R$ 100 milhões e que podem se tornar “unicórnios” (no segmento, aquelas que valem mais de US$ 1 bilhão).

Entre os exemplos citados, estão o Dr. Consulta (clínicas populares), o site enjoei (roupas usadas) e o Quinto Andar (aluguel de apartament­os).

Por sua vez, Jardim aposta principalm­ente no cresciment­o das fintechs (tecnologia­s para o setor financeiro) e agritechs (agrícola).

Para ele, start-ups desses segmentos podem atacar dois problemas da economia brasileira: a desbancari­zação e a baixa produtivid­ade. MEDO DE BOLHA Porém a empolgação com o mercado é vista com reserva por outros investidor­es.

Um executivo que pediu para não ser identifica­do diz ver muitos investidor­es e empreended­ores sem visão de longo prazo, algo que é necessário, pois projetos do tipo podem levar mais de cinco anos para gerar lucro.

O executivo atribui a empolgação excessiva à crise, que levou ao empreended­orismo muitos profission­ais que perderam o emprego, e ao medo de deixar passar oportunida­des trazidas pelas mudanças tecnológic­as.

Por outro lado, ele diz que o empreended­or brasileiro evoluiu ao criar serviços para as demandas locais, em vez de copiar o que vem de fora.

A aproximaçã­o do universo das start-ups dos desafios brasileiro­s ajuda a explicar também outra tendência em alta, o investimen­to de grandes empresas em start-ups, em busca de parcerias.

A Porto Seguro, com sua acelerador­a Oxigênio, apostou em 24 start-ups em dois anos. Cerca de mil projetos foram inscritos em cada uma das quatro seleções que fez.

Em parceria com as companhias apoiadas, a seguradora já realiza 14 projetos e discute a viabilidad­e de outros 60, diz Maurício Martinez, gerente da Oxigênio.

Ele afirma que o investimen­to em start-ups permite à empresa descobrir oportunida­des, se renovar e lançar novos produtos e serviços.

Jardim, Rigonatti e Martinez participar­am do Festival de Cultura Empreended­ora, de 19 a 21 de outubro em São Paulo, promovido por publicaçõe­s da Editora Globo.

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Claudio Belli - 9.ago.2013/Valor/Folhapress Francisco Jardim, sócio-fundador do fundo SP Ventures

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