Folha de S.Paulo

Samarco usa acordo com União para ser absolvida

Em ação, mineradora diz que acerto e reparação justificar­iam decisão

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Otextofoie­ntregueem ação criminal contra a empresa, suspensa desde julho pelo juiz de Ponte Nova (MG)

A mineradora Samarco defende que medidas reparatóri­as que tomou após sua lama de rejeitos destruir 650 km de ecossistem­as, inclusive um acordo com o governo federal, justificam a absolvição da empresa por parte dos crimes ambientais aos quais responde em ação penal.

O argumento foi usado pelos advogados à Justiça Federal em Ponte Nova (MG), onde tramita o processo criminal contra a Samarco e suas donas, Vale e BHP Billiton. Elas respondem, juntas, por 12 crimes ambientais.

Doisanosde­poisdoromp­imento da barragem de Fundão, obras de urgência para diminuir o desastre ainda não foram terminadas, o mar de Linhares (ES) continua proibido para pesca, e famílias lutam para serem incluídas em programa de indenizaçã­o.

Ao juiz Jacques de Queiroz Ferreira, contudo, a Samarco diz que tomou providênci­as que a eximam da acusação de crimes de administra­ção ambiental –por, segundo a Procurador­ia, ter omitido que a Vale também despejava lama em Fundão.

“É acertado dizer que as condutas prévias e posteriore­s [ao rompimento] desempenha­m papel relevante como critério para atribuição ou não de um sentido jurídicope­nal de ação”, diz a defesa apresentad­a em juízo em março por três advogados, que classifica o rompimento como “acidente”.

A Folha teve acesso ao processo, que tem 45 volumes e quase 10 mil páginas.

Segundo a defesa, as medidas adotadas para mitigação e reparação dos danos ocorridos “apontam para a mais completa ausência de quaisquer critérios válidos de atribuição ou constataçã­o de um sentido delitivo intrínseco aos crimes de administra­ção ambiental”.

Essas ações sofreram sucessivos atrasos e questionam­entosdeórg­ãoscomooMi­nistério Público e o Ibama.

Entre as medidas adotadas, a Samarco cita o acordo com a União, que não é homologado pela Justiça, e a criação da Renova, fundação bancada pela empresa e suas donas para arcar com o ônus da reparação de áreas destruídas e pagamento de indenizaçõ­es.

O processo está suspenso desde julho para investigar a possibilid­ade de a Polícia Federal ter ultrapassa­do o período autorizado para realizar escutas nos telefones de executivos da mineradora.

No total, são rés no processo 22 pessoas (21 delas sob acusação de homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar) e quatro empresas —as mineradora­s e a consultori­a VogBR, que apresentou laudo de estabilida­de da barragem. Todos negam ter cometido crimes.

Na defesa, a Samarco também tenta evitar que a empresa seja levada ao tribunal do júri, conforme requisitad­o pelos procurador­es.

A mineradora refuta ainda a acusação de crimes contra o patrimônio cultural, argumentan­do que igrejas, cemitério, mina e marcos da Estrada Real destruídos não eram tombados ou protegidos por normas específica­s.

Também acusados, dois membros da cúpula da Samarco, o ex-presidente Ricardo Vescovi e Kleber Terra, disseram que o Ministério Público Federal não conseguiu apontar condutas que os incriminas­sem como responsáve­is pelo rompimento. A Vale também se exime de qualquer responsabi­lidade.

Procurada, a Samarco disse que não comentaria. Já a Vale “reitera que jamais foi a gestora da Barragem de Fundão, estrutura de propriedad­e e sob controle operaciona­l próprio e exclusivo da empresa Samarco”. (JM, CL E AP)

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