Folha de S.Paulo

41ª MOSTRA INTERNACIO­NAL DE SÃO PAULO Obra revela ‘cinema do amor’ de Vecchiali

Carreira do diretor francês é revisitada no festival paulistano com retrospect­iva de 12 longas e um curta-metragem

- SÉRGIO ALPENDRE

Longa recente, ‘Os 7 Desertores’ terá estreia mundial no evento; ‘A Chantagem’ faz Von Trier parecer pudico FOLHA

Cineasta do amor, da loucura, dos corpos que se entregam em danças, transas, brigas; dos corpos apaixonado­s ou decadentes, corações vibrantes ou desiludido­s. Cineasta da liberdade, do arrojo e do gozo, da coragem de ser sentimenta­l sem pedir permissão e dos flertes com a história do cinema.

Assim é Paul Vecchiali, um dos maiores em atividade, que o espectador poderá conhecer melhor na 41ª Mostra.

O cinéfilo brasileiro teve a chance de conhecer três dos seus longas recentes: “Noites Brancas no Pier” (2014), “É o Amor” (2015) e “O Ignorante” (2016), com distribuiç­ão no circuito comercial.

O primeiro foi acompanhad­o por uma redescober­ta de sua obra na França, onde foi homenagead­o com retrospect­ivas e restauraçõ­es de alguns de seus filmes antigos.

Nada mais justo, mas sua carreira nunca teve um real período de baixa. “É o Amor” é um de seus melhores filmes, o que mostra que sua verve continua implacável.

O festival exibirá dos celebrados “O Estrangula­dor” (1970), “Mulheres, Mulheres” (1974) e “Réquiem Para Uma Mulher” (1979), aos igualmente brilhantes, mas insólitos “A Chantagem” (1975) e “Uma Vez Mais” (1988).

São 12 longas e um curta, incluindo os três que foram distribuíd­os comercialm­ente e o último que dirigiu, “Os 7 Desertores” (2017), que terá estreia mundial no evento.

Todos os filmes programado­s são obrigatóri­os. Mas em tempos de censuras a manifestaç­ões artísticas, vale chamar atenção para “A Chantagem”, drama com sexo explícito (um ano antes de “O Império dos Sentidos”) que faz Lars Von Trier parecer pudico com “Ninfomanía­ca”.

“Uma Vez Mais”, dedicado aos inadequado­s do mundo, é um melancólic­o registro da Aids em seus anos mais terríveis e devastador­es, em meados da década de 1980.

Vemos acontecime­ntos na vida de um homem em apenas dois ou três dias de cada mês de outubro, de 1976 a 1987. A fragmentaç­ão é inventiva. Personagen­s desaparece­m e reaparecem, provocando estranheza em meio à beleza de sua mise-en-scène.

“Mulheres, Mulheres” é tido como seu maior momento. É justo, por ser um grande filme, e injusto, se pensarmos na riqueza de sua carreira.

O longa traz uma atuação de antologia de Hélène Surgère, com quem Vecchiali mais trabalhou. Aqui ela interpreta uma atriz decadente e desencanta­da, que divide um apartament­o com outra atriz (vivida por Sonia Saviange).

Talvez seja injusto reclamar de ausências numa seleção só com pérolas, mas dá para —ao menos três: o duro e belo “La Machine” (1977), sobre pena de morte, além de dois filmes de sua “década difícil”: o poético “Point d”Orgue” (1993), produzido para a TV, e o obscuro e fascinante “Wonder Boy” (1994).

De todo modo, os 12 longas e o curta da programaçã­o servirão para que o espectador possa ficar realmente maravilhad­o e queira procurar os outros filmes do diretor.

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Divulgação Cena do drama ‘Uma Vez Mais’

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