Folha de S.Paulo

Para melhorar o todo

- DANTE FERRASOLI

Visto como “difícil” para quem é mais criativo, por ter muitas regras e procedimen­tos pré-estabeleci­dos, o mercado de franquias está em transforma­ção. Ficou mais atraente para o empreended­or de perfil mais inquieto.

Hoje, há mais flexibilid­ade nesse ambiente de negócios, diz Juarez Leitão, diretor institucio­nal da ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g). “Há uma mudança. As franqueado­ras mais modernas têm sido mais flexíveis, permitindo que os franqueado­s exerçam seu empreended­orismo, ajudando a franqueado­ra a transforma­r o negócio em algo melhor”, afirma.

Ele pondera que algumas regras devem, de fato, ser estritamen­te seguidas. “Já vi gente que queria mudar o logotipo da empresa. Não dá.”

Gustavo Raposo, à frente da rede Café Cultura, que tem dez lojas em Santa Catarina, ilustra essa mudança.

“Se o cara faz um negócio que funciona, não tem motivo para a gente dizer que não pode só por que a regra diz que não”, diz. Ele dá o exemplo de uma franqueada que sugeriu instaurar no cardápio um café com leite de amêndoas que sabia produzir. Hoje, o uso do produto é liberado para toda a rede.

Raposo veio de start-up, ambiente aberto a mudanças e inovações. Montou em 2007 uma empresa de precisão agrícola. Dois anos mais tarde, recebeu aporte de um fundo de investimen­tos e, em 2014, vendeu a companhia para um grupo sueco.

Segundo Raposo, a experiênci­a com todo o ciclo da start-up —fundação, aporte e venda—, o ajudou a inovar em outra frente. Aplicou lições de gestão aprendidas naquele período ao mercado de franquias.

“Quando você abre uma start-up, você sabe de algo específico, mas não sabe nada de gestão. Muitas vezes o franqueado, até mesmo o franqueado­r, também não tem uma gestão apurada. É uma semelhança”, afirma.

“Com o fundo [que investiu na empresa dele], apren- di lições de governança e controle que hoje aplico na minha vida, inclusive para educar franqueado­s”, completa. NA CRISE “O que era problema virou a nosso favor.” É assim que Jaime Silva, franqueado em Guarulhos (SP) da marca de piscinas iGui, define uma inovação sua que o ajudou a passar por uma fase difícil.

Em 2015, ápice da crise hídrica do sistema Cantareira, não era fácil vender piscinas. Silva passou a oferecer uma espécie de brinde a clientes: caso comprassem uma piscina, a água era por conta dele, que a levava, em caminhões-pipa, de outras fontes que não o Cantareira.

Segundo Silva, o modelo, que perdurou por dez meses, causou um aumento de 70% nas vendas da sua loja em relação ao ano anterior, mesmo em meio à crise hídrica.

“O mercado exige a inovação. Isso chamou a atenção das pessoas, você mexe com o emocional delas quando fala de ecologia”, afirma.

Ele informou a franqueado­ra sobre sua solução e outros franqueado­s adotaram o brinde. A ideia deu a Silva o prêmio da ABF de melhor franqueado em 2016. NICHO Thiago España, sócio da agência de intercâmbi­o World Study, dá liberdade total para que seus 45 parceiros espalhados pelo país toquem a rotina de cada unidade. “Foi uma decisão difícil, tivemos de abrir mão de padronizaç­ões, mas precisamos que nosso franqueado seja muito bom com os alunos dele. Se for proibido de pensar, não consegue”, afirma.

O franqueado pode fazer campanhas e escolher público-alvo sem ter de dizer uma palavra à franqueado­ra.

Foi o que fez Paulo Bello, que tem uma agência da World Study em São Paulo. Ele descobriu um novo mercado a explorar no começo deste ano, ao atender um aluno interessad­o na Coreia do Sul e no K-Pop, estilo musical típico do país. Percebeu que muita gente consome essa cultura. “Comecei a procurar influencia­dores, encontrei uma blogueira que era voltada para esse público e a contratei para uma campanha”, conta o empresário.

O sucesso foi imediato. “Quase derrubou o nosso site. O pessoal da TI entrou em contato comigo para saber o que estava acontecend­o”, relembra España.

A partir da demanda e da repercussã­o, Bello já realizou a viagem de um grupo à Coreia do Sul em julho e organiza uma segunda turma para janeiro. “A procura está absurda. Recebemos uma avalanche diária de contatos.”

A ação reverberou nas outras unidades da agência.

“Quando o franqueado faz uma ação assim, abre portas para outras unidades, que se beneficiam também. Tem aluno do Brasil todo viajando com o meu grupo, mas quem fecha as vendas são os franqueado­s locais”, diz Bello.

“Se a gente fosse uma franqueado­ra engessadon­a, nem faríamos isso”, diz Espãna.

 ?? Divulgação ?? Panorama de unidade da rede de franquias Café Cultura em Florianópo­lis; franqueado­ra tem dez lojas espalhadas pelo Estrado de Santa Catarina
Divulgação Panorama de unidade da rede de franquias Café Cultura em Florianópo­lis; franqueado­ra tem dez lojas espalhadas pelo Estrado de Santa Catarina
 ?? Nede Losina/UOL ?? Funcionári­o trabalha em fábrica da iGui, em Gravataí (RS)
Nede Losina/UOL Funcionári­o trabalha em fábrica da iGui, em Gravataí (RS)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil