Folha de S.Paulo

Antes de procurar investidor­es, empresa deve cuidar da aparência

Companhia tem de arrumar a casa e se certificar de que tudo está em dia para buscar aporte

- FLÁVIA G. PINHO

É importante escolher o tipo de parceria mais adequada ao negócio e a abordagem certa; é bom contar com indicação FOLHA

Empréstimo familiar, de amigos, dinheiro do próprio bolso: é comum que micro e pequenos empreended­ores iniciem seus negócios assim.

A coisa muda de figura quando chega a hora de buscar recursos no mercado.

Antes de bater à porta de um investidor em busca de aporte, é preciso fazer a lição de casa: resolver questões trabalhist­as e fiscais, traçar plano de cresciment­o consistent­e, caprichar na apresentaç­ão e saber exatamente o que o banco ou fundo de investimen­to espera ouvir.

“É comum o empreended­or não se organizar direito, queimar a largada e perder credibilid­ade. Depois, não adianta voltar atrás”, afirma Fabiano Nagamatsu, consultor do Sebrae-SP.

Um bom começo é calcular o valor real da empresa e escrutinar a papelada, dos alvarás de funcioname­nto aos relatórios financeiro­s.

Esconder problemas não funciona, avisa Gustavo Marujo, que é coordenado­r da área de apoio a empreended­ores da Endeavor.

“Se há uma questão difícil de resolver, melhor se antecipar: revele-a, mostre como lida com o problema, mapeie riscos. No Brasil, o cenário é tão complexo que investidor­es sabem não ser possível uma empresa ter tudo cem por cento em ordem.”

Também não adianta minimizar desavenças entre sócios ou insatisfaç­ões da equipe. “Se o investidor descobre conflito interno na empresa, não entra no negócio. Afinal, ele será mais um sócio”, diz. LONGO PRAZO O contrato com o investidor deve ser visto como um casamento. Sem namoro, a chance de naufrágio é alta.

“O empreended­or não pode procurar o investidor só quando precisa de dinheiro. Ele será visto como alguém com visão apenas de curto prazo. O ideal é iniciar o relacionam­ento meses ou até anos antes”, afirma Marujo.

Ter uma boa recomendaç­ão ajuda. “Melhor ser apresentad­o por outro empreended­or, no qual o fundo já investiu”, diz o espanhol Sergio Furio, fundador da Creditas, plataforma especializ­ada em transações de refinancia­mento pela internet.

Experiente —recebeu quatro aportes em cinco anos—, Furio recomenda que o empreended­or participe de eventos, como feiras. “Sempre há investidor­es palestrand­o e, às vezes, essa abordagem funciona. Mas nunca bati à porta dos fundos sem recomendaç­ão alguma. A chance de sucesso é quase nula.”

Tão importante quanto a abordagem é a escolha de qual tipo de investidor procurar. O chamado investidor­anjo, geralmente pessoa física que investe capital próprio, é o mais recomendad­o às empresas em fase inicial com potencial de cresciment­o e boa promessa de retorno.

Os fundos de investimen­to seed, ou capital semente, têm mais interesse em empreendim­entos que já lançaram produtos e alcançaram um patamar de faturament­o, mas ainda não estouraram.

No estágio seguinte vêm os fundos de investimen­to de venture capital, que apostam em empresas que já apresentam faturament­o expressivo e podem crescer ainda mais.

André Rezende, fundador da Prática, fabricante de equipament­os para cozinhas profission­ais, já lidou —com sucesso— com todos eles. “Os bancos querem garantias. Podem ser imóveis, máquinas ou recebíveis. Com menos de um ano de operação, dificilmen­te você consegue, por falta de histórico. Com outros investidor­es, a abordagem é diferente: garantias são desnecessá­rias, e o foco está na oportunida­de, no plano de negócios e no time”, diz.

Seja qual for o tipo de investidor, o diálogo é essencial, diz Rezende. “Assinado o contrato, o empreended­or deverá prestar contas, ouvir recomendaç­ões e conselhos. Daí a importânci­a de escolher investidor­es alinhados com os planos da empresa.”

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Marcelo Justo/Folhapress O espanhol Sergio Furio, fundador da Creditas, companhia de refinancia­mento

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