Tenho, mas não libero até identificar essa carência.
Tem estoque para isso? Onde está o estoque?
Dentro da própria indústria. Por exemplo, uma indústria de chocolate, ela tem 50 toneladas de um chocolate que não vai vender e me pergunta: Você quer fazer farinata de chocolate? Digo: claro. Tenho acordo com as indústrias tanto para fornecer alimento quanto para produzir. Quais indústrias?
Não posso dizer. Tenho acordo de confidencialidade. Antes eu já não podia porque não tinha lei, olha que ironia. Agora tem lei, a mídia está batendo em cima e ninguém quer falar que está dentro. E essas empresas vão doar?
Vão. Hoje, para descartar o alimento, elas têm que levar a um lugar distante e o custo da incineração é alto. Ela elabora o beneficiamento, doa o alimento, reduz o consumo e leva para quem passa fome. Seu perfil no LinkedIn diz que a senhora trabalha para a empresa de alimentos Mead Johnson Nutrition.
Não estou mais lá, faz duas semanas que saí para focar no combate à fome. Mas isso é importante por quê? É uma empresa de nutrição [a MeadJohnson diz que ela prestou serviços por quatro meses na área financeira, mas que não tem relação com o projeto]. Fui
Se as empresas baratearem seus produtos é ótimo. Se elas acharem que é melhor elas doarem para quem tem fome é muito bom. O que não é razoável é ter tanta produção para ir para o lixo. Aqui as pessoas dizem que não há fome, aí jogam tudo fora. Se não tem fome em São Paulo, a gente leva para o Haiti, para a Síria, para a Venezuela. Qual é o tamanho do estoque?
Não sei te falar exatamente porque estou recebendo produtos. Tenho 60 palets de alimentos bons que devem dar uma 40 toneladas, não sei dizer exatamente. O que a senhora achou das críticas dos nutricionistas?
Liguei para as nutricionistas, só achei estranho elas criticarem pela internet. Se entidade de cunho científico começa a usar de ideologia e partidarismo, como fica? A médica Zilda Arns criou a multimistura, que foi usada no combate à fome nos anos 1980. A medida é desaconselhada hoje.
Não tem nada a ver com o que a gente faz. Pego um alimento bom e o transformo num mesmo alimento, estendendo a vida útil. Ela fazia uma mistura que era um alimento para quem não tinha, mas era numa escala familiar. Foi a Igreja Católica que apresentou o projeto ao Doria?
Sim. Dom Odilo [Scherer, arcebispo de SP] participa conosco desde 2013, quando participou do projeto federal que prevê função social do alimento. Mas apresentamos a ele e a 40 religiões que têm trabalho de combate à fome.