Folha de S.Paulo

Preocupaçã­o zero

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BRASÍLIA - Em julho de 2016, a Folha perguntou a Michel Temer se ele estava preocupado com a Lava Jato. “Não tenho a menor preocupaçã­o. Zero. Pode botar zero em letras garrafais”, respondeu o presidente. Poucos meses depois, ele entrou de vez na mira da operação. Já foi denunciado duas vezes e escapou por pouco de perder o mandato.

Nesta segunda, o jornal “O Globo” perguntou a Temer se ele está preocupado com uma possível delação de Geddel Vieira Lima. A Procurador­ia já concluiu que o ex-ministro não atuava sozinho. Ele tem enviado sinais de desespero da cadeia. Apesar dos avisos, o presidente repetiu a resposta anterior. “Zero. Põe zero em letras garrafais aí”, ordenou.

Políticos não gostam de admitir preocupaçã­o com nada. Muito menos com o próprio pescoço. Temer não é exceção nessa lista. O manual da classe ensina a negar sempre. Mesmo quando os fatos mostram que a negativa não para em pé.

No fim de 2015, perguntara­m a Eduardo Cunha se ele estava preocupado com o risco de ser cassado. O peemedebis­ta havia mentido a uma CPI. A Lava Jato avançava em sua direção. Teimoso, ele deu de ombros. “Não tenho nenhuma preocupaçã­o. Zero de preocupaçã­o”, desdenhou.

Em abril, perguntara­m a Lula se ele estava preocupado com uma possível delação de Antonio Palocci. O ex-ministro já contava sete meses na prisão. Os advogados indicavam que ele estava disposto a falar. Mesmo assim, o ex-presidente desconvers­ou. “Palocci é meu amigo. Ele tá trancafiad­o, mas não tenho nenhuma preocupaçã­o com delação dele”, disse.

De tanto repetir a ladainha, suas excelência­s estão fazendo escola. No início do ano, o empresário Joesley Batista conversou com o lobista Ricardo Saud sobre o risco de ser preso. Apesar de estar na mira de quatro investigaç­ões, o empresário mimetizou a arrogância dos políticos. “Sabe qual a chance de eu ser preso? Nenhuma. Zero”, disse. Nesta segunda, ele completou 50 dias no xadrez.

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