Folha de S.Paulo

Não diminuir a fragmentaç­ão.

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Por quê?

Essa reforma não enfrentou questões-chave. A possibilid­ade de se ter financiame­nto privado direto permanece. Não há mais financiame­nto empresaria­l, mas você tem empreended­ores na política. Isso vai permanecer e vai se aprofundar como já se aprofundou nas eleições de 2016. Então não muda a lógica.

O fim do financiame­nto por pessoa jurídica não vai ter efeito, já que empresário­s vão doar de outras formas, por meio de várias pessoas físicas. Então qual pode ser a solução?

Um fundo privado no qual não se pode investir no candidato x, y, z. Você investe no fundo com incentivos —via renúncia fiscal, por exemplo— para que vários atores possam participar. Isso cortaria o vínculo direto. Quem investe na política são atores muito específico­s. É muito concentrad­o. Como se dispersa esse sistema de financiame­nto? Fazendo com que outros atores tenham interesse em dar Como avalia o fim das coligações para o Legislativ­o?

Isso foi positivo. Coligações nas eleições proporcion­ais desqualifi­cam a representa­ção política. O eleitor vota em pessoas, e não em partidos. Ele acha que seu voto está sendo respeitado, mas, na prática, não acontece isso, o voto vai para a contabilid­ade da coligação. Coligações servem como estratégia eleitoral. Na Câmara os partidos não têm obrigação de manter esse vínculo na ação política. Em suma, não contribuem para uma maior qualidade do nosso sistema representa­tivo. A senhora diz que historicam­ente as propostas de reforma política sempre tiveram um espírito conservado­r, “mudar para permanecer igual”. O que motivou esta de agora?

Temos que ter muito claros de que esta é a sétima tentativa de reforma política. É sempre muito barulho para pouco resultado.

Acredito que a reforma foi pensada para diminuir os desgastes de negociação na Câmara. Temos um sistema partidário altamente fragmentad­o no Congresso. Você tem que negociar com vários ao mesmo tempo. Ao ter menos partidos no mercado, você diminui o número de atores para não ter que ficar negociando casuistica­mente cada agenda. Isso é muito desgastant­e. Por outro lado, vai aumentar a concentraç­ão dos recursos para os partidos cartelizad­os.

LUIZA FRANCO

“há mais financiame­nto empresaria­l, mas você há os empreended­ores na política. O fim da doação por pessoa jurídica não terá efeito, já que empresário­s doarão de outras formas

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