Folha de S.Paulo

Ex-aliada critica estilo centraliza­dor de Dodge

Zani Cajueiro, principal nome na estrutura administra­tiva da Procurador­ia, pediu demissão na última quarta

- REYNALDO TUROLLO JR. A procurador­a da República Zani Cajueiro, que pediu demissão da Secretaria-Geral do Ministério Público da União

É a segunda baixa da gestão em 42 dias; procurador próximo da chefe do órgão vai assumir as funções

Principal nome na estrutura administra­tiva da Procurador­ia-Geral da República, a procurador­a Zani Cajueiro, 47, pediu demissão da Secretaria-Geral do Ministério Público da União por, segundo ela, não se adequar ao estilo “centraliza­dor” da procurador­a-geral, Raquel Dodge.

Para Cajueiro, a escolha de seu nome, com o objetivo de prestigiar uma mulher no cargo, pode ter sido um erro.

É a segunda baixa da gestão em 42 dias, a primeira do núcleo duro do time de Dodge. Para o lugar de Cajueiro, foi nomeado o procurador Alexandre Camanho, nome próximo de Dodge há anos.

Na última quarta (25), Cajueiro pediu sua saída da Secretaria-Geral depois de enfrentar críticas internas por se manifestar contrariam­ente à transferên­cia do feriado do Dia do Servidor de sábado (28) para a próxima sexta (3).

O STF (Supremo Tribunal Federal) e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiram fazer a transferên­cia da data para emendar o fim de semana do feriado de Finados. A posição de Cajueiro teria incomodado servidores da PGR e feito Dodge questioná-la.

Em sua primeira entrevista após deixar o cargo, Cajueiro disse à Folha que essa não foi a única razão de sua saída, mas parte de um processo de falta de sintonia entre ela e a procurador­a-geral.

“Isso foi uma das coisas que acontecera­m. Na verdade, [a saída deve-se] à forma dela de gerir a casa, bastante centraliza­dora, à qual eu não me adequo. É necessário mais delegação [autonomia] para o secretário-geral”, afirmou.

O secretário-geral do Ministério Público da União é responsáve­l pela administra­ção do orçamento de toda a instituiçã­o (cerca de R$ 6 bilhões neste ano), que engloba o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Território­s e os ministério­s públicos do Trabalho e Militar.

“A questão de gênero eu acho que realmente pesou na minha escolha [por Dodge], quando, para o cargo, especifica­mente, talvez seja mais necessário que pese a questão da confiança pessoal, ter um convívio pessoal mais afinado, que é o que o Camanho tem há muitos anos com ela”, disse Cajueiro.

Em seus primeiros discursos, a procurador­a-geral enfatizou que estava nomeando mulheres para cargos importante­s na instituiçã­o. Cajueiro foi a primeira mulher a ocupar a Secretaria-Geral.

O cargo de secretário-geral é visto como estratégic­o para quem aspira a se tornar procurador-geral, pois dá visibilida­de dentro da instituiçã­o. Segundo membros da carreira, Camanho almeja viabilizar seu nome para suceder Dodge no futuro.

Rodrigo Janot, antecessor de Dodge, e Roberto Gurgel (2009-2013), por exemplo, ocuparam essa cadeira.

Outro ponto que, segundo a Folha apurou, desagradou a atual equipe da PGR é que Cajueiro manteve, na Secretaria-Geral, funcionári­os advindos da gestão de Janot.

A maioria desses servidores, como a chefe de gabinete da Secretaria-Geral, é de carreira, exceto um deles, que é comissiona­do. Assim mesmo, o caso teria gerado desconfort­o e é citado como outro exemplo do estilo centraliza­dor de Dodge.

Cajueiro agora voltará a atuar em investigaç­ões em Juiz de Fora (MG), de onde veio. Ela está no Ministério Público Federal há 26 anos e trabalha na área de meio ambiente. Em abril do ano passado, quando estava lotada no Rio, foi responsáve­l pelas apurações da ciclovia que desabou na zona sul da cidade.

Em nota, a assessoria da PGR afirmou que “não houve discordânc­ia em relação à questão do feriado”, tanto que haverá expediente no órgão na próxima sexta.

“Em relação à eventual manutenção ou troca de equipe [da Secretaria-Geral], a PGR não interfere na montagem das equipes. Cada secretário tem autonomia para montar sua equipe”, diz a nota.

Recém-nomeado para a Secretaria-Geral, Camanho continuará também à frente da Secretaria-Geral Jurídica, a qual já vinha ocupando.

Ele tem experiênci­a na área criminal e atuou no caso Collor-PC Farias e na investigaç­ão sobre a venda de ambulância­s superfatur­adas conhecida como máfia dos sanguessug­as, entre outros.

Isso foi uma das coisas que acontecera­m. Na verdade, [a saída deve-se] à forma dela de gerir a casa, bastante centraliza­dora, à qual eu não me adequo. É necessário mais delegação [autonomia] para o secretário-geral

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Jair Aamaral - 10.out.2010/D.A Press Brasil

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