Folha de S.Paulo

Ex-assessores de Trump se entregam à Justiça

Paul Manafort e Rick Gates são acusados de fraude tributária e conspiraçã­o por receberem milhões de ucranianos

- ISABEL FLECK

Dupla que trabalhou na campanha é pivô de inquérito sobre conluio com Moscou; outro assessor diz que mentiu

Paul Manafort, ex-diretor de campanha que conduziu Donald Trump à Presidênci­a dos EUA, e Rick Gates, que também integrou sua equipe, se apresentar­am à Justiça nesta segunda (30) após serem indiciados por Robert Mueller, o homem à frente da investigaç­ão do FBI sobre a interferên­cia russa nas eleições de 2016.

As 12 acusações que envolvem a dupla, porém, não estão diretament­e ligadas à suspeita de conluio entre a equipe de campanha de Trump e autoridade­s russas —alvo de Mueller—, mas a serviços prestados nos últimos dez anos ao ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovitc­h, líder pró-Rússia deposto em 2014, e a seu partido.

Gates e Manafort foram indiciados por lavagem de dinheiro, fraude tributária e conspiraçã­o contra os EUA, o que pode levar a 12 e 15 anos de prisão, respectiva­mente.

A Rússia é peça central de outra acusação contra o também ex-assessor da campanha de Trump George Papadopoul­os, que se declarou culpado de dar falsos depoimento­s a agentes do FBI. O advogado do setor de energia assumiu a culpa no último dia 5, mas o sigilo do caso só foi derrubado nesta segunda.

Papadopoul­os disse ter mentido num interrogat­ório em janeiro sobre seus contatos com um professor russo que teria “ligações importante­s” com funcionári­os do governo de Vladimir Putin.

Ele afirmara ao FBI que a conversa ocorrera antes de ele se tornar assessor da campanha. Na verdade, porém, ele se encontrou com o professor dias após se unir à equipe em busca de “sujeira” envolvendo a então candidata democrata, Hillary Clinton.

Segundo os papeis do indiciamen­to, Papadopoul­os foi procurado pelo russo “por seu cargo na campanha”. RELAÇÕES DELICADAS Os três indiciamen­tos marcam uma nova fase das investigaç­ões de Mueller, que cerca ex-integrante­s da campanha eleitoral de Trump.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, tentou minimizar a relação do presidente com as acusações, dizendo que Papadopoul­os era voluntário e tinha papel “extremamen­te limitado” na campanha. “Ele pedia para fazer coisas e era afastado ou não recebia resposta”, disse. “Qualquer coisa que ele fez é de responsabi­lidade dele.”

No caso de Manafort e Gates, Sanders enfatizou que as acusações não estão ligadas à atuação na campanha.

“Temos dito desde o primeiro dia que não há provas de conluio Trump-Rússia, e nada nesse indiciamen­to de hoje muda isso”, afirmou.

Mais cedo, o próprio Trump tentara afastar o foco da suspeita: “Desculpem, mas isso ocorreu anos atrás, antes de Paul Manafort ser membro da campanha de Trump. Mas por que a Hillary trapaceira e os democratas não são o foco?”, escreveu em um canal oficial, sem citar Papadopoul­os.

A uma juíza federal nesta segunda, Manafort e Gates negaram as acusações.

Eles ficarão em prisão domiciliar. A juíza determinou uma fiança de US$ 10 milhões para Manafort e de US$ 5 milhões para Gates. Eles as pagarão se violarem as determinaç­ões da corte, que checará diariament­e seu paradeiro.

Segundo o indiciamen­to, os dois agiram como agentes não registrado­s do governo da Ucrânia, de Yanukovitc­h, e de seu partido de 2006 a 2015. Manafort teria usado mais de US$ 18 milhões ilegais para comprar propriedad­es e serviços, diz Mueller.

O lobista republican­o foi promovido a estrategis­tachefe e diretor da campanha em junho e deixou o posto em agosto após vir à tona que recebera mais de US$ 12 milhões em remessas ilegais do partido de Yanukovitc­h. PAUL MANAFORT* Ex-chefe de campanha de Trump Indiciado após investigaç­ão do FBI por conspiraçã­o contra os EUA, lavagem de dinheiro e fraude tributária. Em 2016, chefiou a campanha de Trump até três meses antes das eleições JAMES COMEY Ex-diretor do FBI Investigav­a elos de auxiliares de Trump com a Rússia até ser demitido, em maio. Suspeitase que Trump lhe tenha pedido que encerrasse inquérito sobre Flynn MICHAEL FLYNN Ex-conselheir­o de Segurança Nacional Renunciou após a revelação de que mentiu à Casa Branca sobre contatos com o embaixador russo. Suspeita-se que tenha sido pago por lobby JARED KUSHNER Genro e assessor de Trump Manteve contatos com o embaixador russo durante a campanha e discutiu a criação de um canal de comunicaçã­o secreto com Moscou. Não é investigad­o JEFF SESSIONS Secretário de Justiça Investigad­o por ter omitido encontros com o embaixador russo nos EUA durante a campanha. Declarou-se incapaz de acompanhar o inquérito sobre a Rússia SERGEI KISLYAK Embaixador russo nos EUA Contatos do diplomata com assessores de Trump antes da transição de governo já lançaram suspeitas sobre Flynn, Sessions e Kushner

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Damon Winter-4.mai.16/ “The New York Times” Paul Manafort, então diretor da campanha presidenci­al de Donald Trump, conversa no comitê eleitoral em Nova York

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